O prefeito de Sorocaba, José Crespo (DEM), determinou que a ex-assessora Tatiane Regina Goes Polis recebesse um salário de R$ 11 mil por mês, embora atuasse como “voluntária” na Prefeitura.
Esta declaração foi feita pelo ex-secretário de Comunicação e Eventos (Secom), o jornalista Eloy de Oliveira, que na semana passada pediu exoneração do cargo após ser citado como investigado na operação Casa de Papel.
O Cruzeiro do Sul teve acesso a trechos do depoimento de Eloy. No documento, ele informa que Crespo insistiu para que a agência de publicidade e propaganda DGentil contratasse Tatiane como funcionária, mas o dono da empresa, Luís Navarro, se recusou a contratá-la. O impasse foi resolvido com um acordo, por determinação de Crespo, pelo qual a ex-assessora deveria ser paga com dinheiro do contrato público — no valor de R$ 20 milhões — que a agência tem com a Prefeitura.
No seu depoimento, Eloy acrescentou que foi a partir desse acordo que Tatiane passou a receber um salário de R$ 11 mil por mês para exercer a função de voluntária da Secom. A princípio o salário seria de R$ 9 mil, mas Tatiane teria pedido R$ 2 mil a mais.
De acordo com o depoimento de Eloy à Polícia Civil, Tatiane também exerce “forte poder sobre o prefeito”, atua com status de secretária e tem ramal telefônico em seu nome no 6º andar. O ex-titular da Secom também informou que, ao contrário das informações divulgadas, Tatiane nunca se desligou da Prefeitura de Sorocaba.
Seu depoimento também informa que ela dava ordens a funcionários sem a sua anuência, porém com o respaldo do prefeito. Contou que alguns funcionários tentaram não obedecê-la e acabaram sendo transferidos para outras secretarias, sem comissionamento, com perdas salariais. E um funcionário acabou sendo exonerado da Prefeitura devido ao controle que passou a exercer sobre Tatiane.
O depoimento de Eloy foi dado à polícia como parte da operação Casa de Papel, que investiga desvio de dinheiro, fraudes em licitações e corrupção de agentes públicos na Prefeitura. A operação foi deflagrada pela Polícia Civil e pelo Ministério Público no último dia 8.
Essas informações também foram divulgadas ontem à noite pelo G1 em Sorocaba, com base em cópia do depoimento de Eloy prestado à Polícia Civil.
O advogado de Tatiane, Márcio Leme, que também é advogado do prefeito José Crespo, disse ao Cruzeiro que “precisa tomar conhecimento do assunto para depois se manifestar”. O jornal tentou ouvir os outros envolvidos, mas não conseguiu. Porém, de acordo com o G1, o empresário Luís Navarro negou que tenha sido procurado pelo prefeito para contratar Tatiane como funcionária e nega que tenha feito qualquer pagamento a ela. Enquanto isso, em nota, a Prefeitura informou que “sequer teve acesso ao inteiro teor do inquérito e nem ao suposto depoimento do ex-secretário Eloy de Oliveira”. A Prefeitura acrescentou que “repudia a informação da prática de qualquer ato ilegal”.
Depoimento na CPI
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Municipal, que investiga supostas irregularidades no programa de voluntariado da Prefeitura de Sorocaba, realizará nesta quarta-feira (17), às 9h, oitivas com Tatiane Polis e seu marido, Willian Polis. Pesam sobre ela denúncias de atuação irregular no Paço, com acusações de caracterização de possível tráfico de influência e coerção. As investigações também estão sendo feitas pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Estado de São Paulo.
Prefeito se diz perplexo
No final da noite de terça (16), o prefeito José Crespo, por meio da Secretaria de Comunicação e Eventos (Secom), encaminhou a seguinte nota sobre as denúncias de Eloy de Oliveira:
“É com muita indignação e perplexidade que tomo conhecimento, por meio de reportagens publicadas por veículos de comunicação, das falsas acusações feitas pelo ex-secretário de Comunicação e Eventos, senhor Eloy de Oliveira, suspeito de atos de corrupção praticados no governo dentro da Operação Casa de Papel, em que, de forma leviana, teria afirmado em depoimento à Polícia Civil de que a ex-assessora Tatiane Polis recebeu quantia de R$ 11 mil por mês e que supostamente esse pagamento seria feito por meio uma agência de publicidade contratada pela Prefeitura.
É lamentável e repugnante tais declarações. Reafirmo à população de Sorocaba que essas declarações feitas pelo ex-secretário investigado são levianas e mentirosas e notoriamente têm objetivo espúrio, para atender interesses escusos.
Jamais recebi ou mandei qualquer pessoa realizar pagamentos ilícitos, jamais me submeteria a entrar para o submundo da corrupção. Permaneço à disposição das Autoridades para prestar todos esclarecimentos, continuo como o maior interessado em esclarecer todas as acusações ventiladas na Operação Casa de Papel. Eu não vou tolerar corrupção no meu governo.”
Com informações do Jornal Cruzeiro do Sul
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