A Polícia Federal instaurou há cerca de um mês um inquérito para investigar ataques feitos por hackers aos celulares do ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, e de procuradores da República que atuam nas forças-tarefas da Lava Jato em Curitiba e no Rio de Janeiro, segundo apurou o Estado com uma fonte a par da investigação.
Neste domingo (9), o site The Intercept Brasil divulgou o suposto conteúdo de mensagens trocadas por integrantes do Ministério Público Federal, como o procurador Deltan Dallagnol, e do então juiz federal Sergio Moro. Em nota, o ministro lamentou a invasão, criticou a falta de identificação da pessoa responsável por hackear e a postura do site, que não entrou em contato com ele antes da publicação do conteúdo.
“Quanto ao conteúdo das mensagens que me citam, não se vislumbra qualquer anormalidade ou direcionamento da atuação enquanto magistrado, apesar de terem sido retiradas de contexto e do sensacionalismo das matérias, que ignoram o gigantesco esquema de corrupção revelado pela Operação Lava Jato.”
Os hackers miraram especialmente as mensagens trocadas por meio do aplicativo Telegram, segundo duas fontes com conhecimento do assunto. As vítimas, que não haviam acionado a verificação em duas etapas, recurso que adiciona uma camada adicional de segurança às mensagens, tiveram suas conversas violadas pelos criminosos.
Os procuradores notificaram a Polícia Federal após um deles desconfiar de uma mensagem recebida por meio do aplicativo. O ataque em massa então foi descoberto e começou a ser apurado pela PF.
Dúvida
Um investigador que conversou com o Estado sob reserva diz que somente as vítimas do ataque poderão confirmar se o conteúdo das mensagens é de fato verdadeiro. Isso porque é muito comum que hackers incluam passagens falsas no meio de conversas “roubadas” das vítimas. Um integrante do Ministério Público, que falou ao Estado sob reserva, disse que foi “imprudente” o uso do Telegram para comunicação pelos procuradores e não das vias oficiais, já que há uma rede oficial e segura do MPF para esse fim.
A força-tarefa da Lava Jato em Curitiba afirmou, em nota divulgada na noite deste domingo, que “não sabe exatamente ainda a extensão da invasão”, mas que “possivelmente” foram copiados “documentos e dados sobre estratégias e investigações em andamento e sobre rotinas pessoas e de segurança” dos integrantes do grupo e de suas famílias.
Disse ainda antecipar que os criminosos tentem usar o material roubado para constranger os integrantes da força-tarefa, falseando o conteúdo das conversas. “Uma vez ultrapassados todos os limites de respeito às instituições e às autoridades constituídas na República, é de se esperar que a atividade criminosa continue e avance para deturpar fatos, apresentar fatos retirados de contexto, falsificar integral ou parcialmente informações e disseminar ‘fake news’.”
Segundo a nota, os procuradores têm “tranquilidade” de que as mensagens “refletem atividade desenvolvida com pleno respeito à legalidade e de forma técnica e imparcial” e que não irão “se dobrar à invasão imoral e ilegal, à extorsão ou à tentativa de expor e deturpar suas vidas pessoais e profissionais”.
Os ataques de hackers vêm sendo recorrentes e já eram motivo de preocupação dentro do Ministério Público Federal. Em maio, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, determinou a instauração de um procedimento administrativo para acompanhar a apuração de tentativas de ataques cibernéticos a membros do Ministério Público Federal.
Dodge determinou ainda que a Secretaria de Tecnologia da Informação e Comunicação (STIC) da PGR adotasse providências para diagnosticar eventuais ataques e resolver o problema. À época, Raquel considerou ataques graves e afirmou que eles poderiam comprometer diversas apurações em curso na procuradoria.
No final de abril, o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, informou que seu celular havia sido “clonado ou hackeado”. O relator do processo da Lava Jato no Tribunal Regional Federal da 2ª. Região, Abel Gomes, também foi alvo de hacker, como mostrou a Coluna do Estadão no sábado.
Na semana passada, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, teve seu celular pessoal clonado. Ele cancelou a linha e determinou a abertura de investigações. O ministro desconfiou de uma ligação recebida por ele e, logo em seguida, bloqueou a linha.
Procurados pela reportagem, Sergio Moro e a Procuradoria-Geral da República não se pronunciaram até a conclusão desta reportagem. O Palácio do Planalto disse que não comentaria o caso.
Com informações do Jornal Cruzeiro do Sul
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