O pequeno investidor conquistou uma cadeira de honra no mercado brasileiro. Com seu apetite por diversificar investimentos diante da taxa de juros em declínio, a cada dia que passa tem mais relevância na rotina dos negócios. Neste ano, marcado pela pandemia na saúde e na economia, caminha a passos largos para responder por uma fatia de 20% ou mais de tudo o que é movimentado na B3. É um salto e tanto considerando que há cinco anos essa participação era de 13,7%, na média do acumulado em 2015.
Com um quinto do mercado nas mãos, ou nos bolsos, é natural que esse público desperte o desejo da B3 de entendê-lo melhor. Hoje, a bolsa detalhará à imprensa um estudo sobre o comportamento da pessoa física no mercado de renda variável. A apresentação será feita na TV B3, a partir das 11 horas, conduzida por Felipe Paiva, diretor de Relacionamento com Clientes, e Tarcisio Morelli, diretor de Inteligência de Mercado da B3.
A tendência não é nova, mas o status veio com a crise. Isso porque a pessoa física foi quem absorveu a maior parte das vultosas vendas dos investidores estrangeiros, estimulados também pela sensação de liquidação nos preços dos ativos. Dos 35,7 bilhões de reais que o investidor internacional tirou da bolsa, no saldo líquido entre entradas e saídas, a pessoa física comprou 28 bilhões de reais – ou seja, quase 80% disso.
Como o total que o estrangeiro tem aplicado cai e o da pessoa física cresce, é natural que a participação do pequeno aplicador na bolsa aumente proporcionalmente.
O avanço se verifica mês a mês ao longo de 2020. Em março, o frenesi foi grande e o total movimentado na bolsa aumentou muito: mesmo com uma carteira mais magrinha que dos investidores institucionais, o pequeno investidor girou quase 16% do total. Esse percentual subiu para 19,5% em abril, com os volumes mais próximos da rotina, e em maio está em 22,8%. A média no ano, em razão de março, está em 18,1%. Mas a cada mês se aproxima mais da média de 20%.
Importante ressaltar que essa expansão ocorreu em um cenário de forte crescimento do volume financeiro transacionado – não de encolhimento. O total movimento na bolsa em 2015 foi de 1,67 trilhão de reais e, no ano passado, de 4,29 trilhões de reais. Neste ano, até o meio de maio, o volume estava em 2,61 trilhões de reais.
O número de contas ativas para negociação na B3 deu um salto de 700 mil neste ano, para 2,38 milhões. Desse total, 400 mil delas foram abertas entre março e abril.
Os percentuais citados referem-se apenas ao que a pessoa física vem fazendo diretamente a partir de suas contas nas corretoras. Mas não para por aí: o poupador brasileiro foi o grande responsável pela captação da indústria de fundos de ações, que até o fim de abril acumulava 44 bilhões de reais em aportes neste ano.
Com as saídas acumuladas nos últimos anos, quem perdeu espaço no mercado brasileiro foi o investidor estrangeiro. Na soma de 2018 até o meio de maio deste ano, o total retirado alcança 75 bilhões de reais – 64,5 bilhões de reais só em 2020. Com isso, esse aplicador saiu de uma participação de quase 53%, em 2015, para os atuais 49%. O percentual do giro neste ano está maior do que em 2019, quando ficou com uma fatia de 45%, devido à força das vendas.
Na prática, a poupança doméstica, conquista mais e mais espaço no mercado: era 41% do volume transacionado na bolsa há cinco anos e hoje assumiu mais de 49%.
A representatividade da B3 na carteira do brasileiro tem significados profundos para a economia no longo prazo. Na prática, o poupador está deixando de dar dinheiro para o governo e aplicando mais nas companhias, ou seja, diretamente na economia real.
Para as empresas, o mercado desenvolvido é acesso a capital, seja para pagar dívidas ou expandir operação. Os investidores estão eles próprios decidindo quem merece sua riqueza, no lugar de estimular uma economia em que as ações de financiamento e estímulo aos negócios tinham que partir do governo.
Para concluir o quadro, vale recordar: a taxa de juros Selic começou 2015 em 11,75% e terminou em 14,25%. Neste ano, a taxa já está em 3%, depois de fechar ano passado em 4,5%.
As informações são da Revista Exame.
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