Um ano após o início da pandemia do novo coronavírus — antes mesmo de conseguir se desvencilhar da crise sanitária —, o mundo se vê diante prognósticos sombrios para a próxima década. Mas a conta da Covid-19, que já se apresenta alta, pesará sobretudo para os mais pobres. Os mil maiores bilionários do planeta já conseguiram reaver as perdas provocadas em suas finanças para os níveis pré-crise. Os mais pobres, contudo, devem levar pelo menos 14 anos para fazê-lo.
Até lá, a estimativa é a de que a renda per capita diminua e que se aprofunde ainda mais o abismo entre os abastados e a população menos favorecida. É a primeira vez que isso acontece em todos os países do mundo ao mesmo tempo desde 1870, quando surgiram as primeiras medidas de indicadores sociais. No pior dos cenários, a estimativa é de que 501 milhões de pessoas podem estar abaixo da linha da pobreza até 2030. Isso significa viver com menos de US$ 5,50 (R$ 30) por dia.
Os dados constam no relatório “O Vírus da Desigualdade”, lançado pela Oxfam nesta segunda-feira (25) durante a abertura do Fórum Econômico Mundial (FEM), que tradicionalmente acontece em Davos, estação de ski nos Alpes suíços. Este ano, o encontro será feito virtualmente por conta do vírus. E pode ter outra edição, desta vez presencial, em Cingapura, em maio.
Os bilionários acumularam US$ 3,9 trilhões entre 18 de março e 31 de dezembro de 2020. A riqueza total deles hoje é de US$ 11,95 trilhões, quase o mesmo valor que os governos do G20 (o grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo) gastaram para enfrentar a pandemia.
A recuperação se deu em apenas oito meses. Estas mesmas pessoas levaram cinco anos para reaver as perdas que registraram durante a crise financeira global de 2008. O que os 10 maiores bilionários ganharam neste período, US$ 540 bilhões, segundo a Oxfam, é mais do que suficiente, por exemplo, para pagar a vacinação em massa pelo mundo.
Estes números dão contornos ainda mais trágicos para as consequências da pandemia que já matou mais de dois milhões no mundo e tirou emprego e renda de milhões de pessoas, empurrando-as para a pobreza.
Os mais ricos prosperam como nunca
“Os mais ricos – indivíduos e empresas – estão prosperando como nunca. A crise provocada pela pandemia expôs nossa fragilidade coletiva e a incapacidade da nossa economia profundamente desigual trabalhar para todos”, diz o documento.
Se os dados do relatório indicam que a recessão acabou para os mais ricos, para os mais pobres ela deve ser longa. A situação atual deu origem à pior crise de empregos em mais de 90 anos. De acordo com dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), cerca de meio bilhão de trabalhadores agora estão sub-empregadas ou sem emprego. Estatísticas apontam que, no ano passado, somente na América Latina e Caribe, cerca de 40 milhões pessoas teriam perdido seus empregos e mais de 52 milhões se tornaram pobres. A maioria daqueles levados para a pobreza são trabalhadores informais, pessoas que estão fora das redes de proteção social, programas de assistência social e acesso a crédito.
Mais de dois terços da população mundial que serão levadas para baixo da linha de pobreza estão no sul da Ásia, na Ásia Oriental e no Pacífico. De acordo com o relatório, “frequentemente, em tempos de crise, (os mais pobres) precisam vender pequenos bens como bicicletas ou animais a preços baixos, o que os torna menos capazes de se recuperar e cria uma armadilha de pobreza que pode persistir por décadas”.
Mulheres são as mais afetadas
A Covid-19 também vai afetar mais mulheres. Elas formam um exército de 740 milhões de trabalhadoras na economia informal mundial. Somente no primeiro mês da pandemia, elas registraram uma perda de sua renda de 60%, o que equivale a US$ 396 bilhões. Elas também estão sendo empurradas de maneira desproporcional para o desemprego. Isso porque “os confinamentos e o distanciamento social afetaram forças de trabalho altamente feminizadas em setores de serviços, como o turismo”.
O relatório destaca ainda que as taxas de contaminação e mortes por Covid-19 são maiores em áreas mais pobres de países como França, Espanha e Índia. Na Inglaterra, essas taxas são o dobro nas regiões mais pobres em comparação com as mais ricas.
A Oxfam defende que um imposto temporário sobre os excessivos lucros obtidos pelas 32 corporações globais que mais lucraram durante a pandemia poderia arrecadar US$ 104 bilhões, considerados os números de 2020. O valor, segundo o relatório, seria suficiente para providenciar auxílios desemprego para todos os trabalhadores e trabalhadoras afetados ao longo da pandemia e oferecer apoio financeiro para todas as crianças e idosos em países de baixa ou média renda.
Aumento de desigualdade em praticamente todos os países
Isso significa que é provável que a Covid-19 aumente a desigualdade em praticamente todos os países do planeta simultaneamente. Esta será a primeira vez que isso acontecerá desde o início dos registros de desigualdade, há mais de um século.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que epidemias recentes de doenças como a H1N1 (gripe suína) e a Zika aumentaram os níveis de desigualdade nos países afetados em 1,3%. O impacto do coronavírus deverá ser muito maior em função das restrições generalizadas impostas às populações.
De acordo com o relatório da Oxfam, em 2030, o número de pessoas vivendo com menos de US$ 5,50 dólares por dia seriam mais altos que no início da pandemia: 3,4 bilhões de pessoas. “Por outro lado, se os governos tomarem uma ação coordenada e reduzirem a desigualdade em dois pontos percentuais ao ano, poderemos recuperar os níveis de pobreza pré-coronavírus em três anos”, diz o documento.
A Oxfam ainda entrevistou 295 economistas de 79 países, entre eles Jayati Ghosh, Jeffrey Sachs e Gabriel Zucman. Ao todo, 87% dos entrevistados esperavam, no momento em que foram questionados, que a desigualdade de renda aumentasse ou aumentasse fortemente como resultado do coronavírus em 77 países. Mais da metade dos entrevistados (56%) achava que a desigualdade de gênero provavelmente aumentaria, e dois terços (66%) opinavam o mesmo sobre a desigualdade racial. Dois terços também sentiram que seu governo não tinha um plano em vigor para combater a desigualdade.
O Fórum Econômico Mundial deve tratar dos desafios econômicos, ambientais, sociais e tecnológicos apresentados pela pandemia. O evento, que reúne anualmente a elite econômica mundial, considera que 2021 será crucial para a reconstrução da confiança. Na agenda do FEM está a defesa de parcerias e cooperação global para definir as políticas para o futuro. O encontro virtual deve ter a participação especial de líderes do G20 e organizações internacionais. O setor privado estará representado por mais de mil membros do fórum e mais de 500 CEOs.
Com informações da RFI.
Edição – Cibelle Freitas.
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