A pandemia do novo coronavírus escancarou os diferentes aspectos da desigualdade social no Brasil. Entre eles, a questão referente aos hábitos alimentares. Enquanto as pessoas com mais estudo em regiões mais favorecidas economicamente passaram a comer de forma mais saudável, reflexo do privilégio de poderem se manter em isolamento social e cozinhar em casa, a população com menor escolaridade de regiões menos desenvolvidas economicamente, que continuou saindo para trabalhar e viu seu orçamento diminuir ou desaparecer, aumentou o consumo de alimentos menos saudáveis.
A conclusão é do Estudo NutriNet Brasil, trabalho feito pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (USP) e que contou com 75 mil voluntários. Eles responderam a questionários numa divisão por grupos orientada por sexo, faixa etária, macrorregião de residência e escolaridade.
De maneira geral, houve um aumento na frequência de consumo de itens como frutas, hortaliças e feijão (de 40,2% para 44,6% durante a pandemia), mas a pesquisa também revelou que piorou a alimentação de pessoas de menor escolaridade no Norte e no Nordeste. “Padrão menos favorável de mudanças, com tendência de aumento no consumo de marcadores de alimentação saudável e não saudável, foi observado nas macrorregiões Nordeste e Norte e entre pessoas com menor escolaridade, sugerindo desigualdades sociais na resposta à pandemia”, reporta o estudo.
Houve elevação na frequência do consumo de pelo menos um grupo de alimentos ultraprocessados (de 77,9% para 79,6%) e de cinco ou mais grupos desses alimentos (de 8,8% para 10,9%). Exemplos de ultraprocessados são biscoitos e pães industrializados, salgadinhos de pacote e refrigerantes.
Esses produtos têm adição de ingredientes como açúcares, gordura hidrogenada, corantes artificiais, emulsificantes e aromatizantes. Segundo Renata Bertazzi Levy, do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP e pesquisadora do Estudo NutriNet Brasil, mais de 400 artigos científicos associam esses alimentos a problemas de saúde como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, alguns tipos de câncer, asma em crianças e adolescentes, cólon irritável e depressão.
O Estudo NutriNet Brasil, que investiga desde janeiro de 2020 a relação entre padrões alimentares e o desenvolvimento de doenças crônicas, reúne atualmente mais de 93 mil participantes e pretende chegar a 200 mil até o fim de 2021. Para participar, basta ter acesso à internet, ser maior de 18 anos e morar no Brasil.
Os brasileiros também engordaram mais do que emagreceram na pandemia. Segundo dados do Estudo NutriNet Brasil, nos primeiros seis meses de isolamento social, 19,7% dos brasileiros ganharam pelo menos dois quilos, enquanto 15,2% da população perdeu o mesmo peso.
A escolaridade mais baixa foi fator de risco para os ponteiros da balança subirem. Os pesquisadores acreditam que pessoas com mais anos de estudo podem ter adotado uma alimentação saudável por disporem de maior tempo para preparar refeições e por terem acesso a informações sobre a importância da nutrição na defesa contra a Covid-19.
No entanto, a alimentação pode não ser o único elemento que explique a oscilação de peso para mais ou menos. “Houve outras alterações de comportamento que impossibilitam que a gente faça essa associação na pandemia”, explica Renata Bertazzi Levy. Tempo de sono, prática de atividade física e fatores emocionais, que também impactam no ganho ou perda de peso, não foram objeto de estudo dos cientistas.
Não foi só o que o brasileiro come que mudou: consumo de álcool cresceu durante o período de restrição social. Segundo uma análise do banco de dados ‘ConVid, Pesquisa de Comportamentos’, conduzido pela Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), as maiores prevalências de ingestão de bebida estão entre as pessoas com 30 a 39 anos, seguidas pelas de 18 a 29 anos, com a menor incidência entre a população idosa.
Para a nutricionista Shauana Rodrigues, mestranda da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP-USP), o isolamento social provocou maior impacto no comportamento alimentar e no consumo de álcool em pessoas com transtornos alimentares, como anorexia, bulimia e compulsão alimentar, quando comparadas às que não têm esses quadros.
Shauana está compilando os dados de uma pesquisa com mais de mil brasileiros sobre como a pandemia de Covid-19 afetou indivíduos com esses distúrbios. Os resultados ainda não estão disponíveis, mas a pesquisadora acredita que, assim como concluiu um levantamento no Reino Unido, mudanças na rotina e na atividade física, além de dificuldades em lidar com as emoções e sentimentos de solidão, podem resultar no aumento da intensidade do comer compulsivo e em práticas para a perda de peso. “A exacerbação dos sentimentos e a experimentação mais intensa de insatisfação corporal e preocupações alimentares podem piorar os sintomas e desfavorecer um bom prognóstico”, afirma ela.
Com informações da CNN Brasil.
Edição – Cibelle Freitas.
Hemocentros de todo o país lembram, nesta segunda-feira (25), o Dia Nacional do Doador do…
O pagamento do benefício do programa Pé-de-Meia tem início nesta segunda-feira (25) e segue até a…
O Encontro de Lutas no Sesc Sorocaba acontece dos dias 26 a 30/11, com o…
Estão abertas as inscrições para a primeira edição do concurso “Ilumina Sorocaba”, ação que visa…
Um grupo de cinco estudantes da Escola Estadual Mario D’Elia, em Franca, desenvolveu um protótipo…
As Delegacias de Defesa da Mulher, da Polícia Civil de São Paulo, estão mobilizadas na…