Jornalismo

Desmatamento na Amazônia pode expor 12 milhões de brasileiros a calor extremo

O desmatamento em larga escala da Amazônia, somado ao aquecimento global, pode elevar as temperaturas na região em até 11,5ºC e colocar a vida, a natureza e a economia sob risco extremo, mostrou estudo feito por pesquisadores da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Universidade de São Paulo (USP).

O estudo, publicado nesta sexta-feira (1º) na revista científica Nature, usa modelos matemáticos para prever o que pode acontecer em diferentes condições climáticas, levando em consideração apenas o aquecimento global, apenas a savanização da Amazônia ou ambos.

As simulações mostram que, nos parâmetros climáticos atuais, a transformação da Amazônia de floresta tropical úmida para cerrado elevaria a temperatura média mais alta na sombra em até 5ºC.

Um cenário apenas com as mudanças climáticas previstas pelo painel de cientistas da Organização das Nações Unidas (ONU) poderia elevar essas temperaturas em 7,5ºC. Já a combinação das duas situações poderia elevar a temperatura média mais alta da região, à sombra, em 11,5ºC.

As temperaturas máximas na região, mostram as simulações, poderiam ficar acima dos 40ºC à sombra em pelo menos 7% dos dias do ano no final deste século, podendo ultrapassar os 46ºC.

Impacto na saúde humana

Um aumento de temperatura nesse patamar, mostram os pesquisadores, tem efeitos diretos na saúde humana.

“O estresse causado por exposição ao calor excessivo pode ser extremamente perigoso para humanos, incluindo o aumento do risco de condições intoleráveis para trabalhos na sombra e risco intenso de doenças causadas pelo calor”, diz o estudo.

Para além dos risco para a saúde, que diminuiriam a capacidade de trabalho e de sobrevivência de uma população que, em muitos casos, já tem dificuldades para viver, uma mudança nesse nível tem impactos diretos na capacidade econômica da região.

A própria atividade que hoje supostamente se beneficia da destruição das florestas — o desmatamento termina por abrir mais terras para a agricultura e a pecuária — seria diretamente atingida.

“O regime de chuva colapsa de tal forma que chega a reduzir em 80% o regime de chuvas no centro da Amazônia. E, no Centro-Oeste, que também é diretamente afetado, a redução das chuvas chega a 50%”, disse Paulo Nobre, pesquisador do Inpe e um dos autores do estudo. “No calor e o solo seco sem chuva, o efeito de amplificação térmica é enorme.”

Efeitos na agropecuária

A agropecuária brasileira, que hoje garante boa parte do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e a balança comercial do país, perderia boa parte da sua efetividade, como já mostrou um outro estudo, esse feito pela think thank Planet Tracker.

Ao analisar relatórios sobre o clima na Amazônia, a Planet Tracker detectou que o desmatamento já está alterando o regime de chuvas no país, o que impacta diretamente na capacidade brasileira de produzir duas, e em alguns casos até três, safras por ano. E é essa capacidade que levou o Brasil a ser um dos maiores produtores de grãos do mundo.

O modelo criado e analisado por Paulo Nobre e os pesquisadores Beatriz de Oliveira, da Fiocruz, Marcus Bottino, também do Inpe, e Carlos Nobre, da USP, apontam para um cenário para 2100. Isso porque foi usado no modelo matemático os dados de aquecimento global que se espera para aquele ano. Paulo Nobre, no entanto, alerta que a savanização da Amazônia já está acontecendo em diversos pontos. O cenário trágico pode chegar muito mais rápido.

Paulo Nobre alerta que quem vê a floresta de cima, tomada por grandes árvores verdes, pode pensar que a transformação da Amazônia em cerrado é impossível, mas não é.

“Não temos como medir isso ainda a não ser com indicadores secundários, como a presença do lobo-guará. Mas indicadores prévios disso já estão presentes”, afirmou.

As informações são da CNN Brasil. Foto: Reprodução.

Cibelle Freitas
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