Jornalismo

Marieta Severo estrela “Duetto”: pessoas precisam saber o que foi a ditadura

A atriz Marieta Severo está, até novembro, com o espetáculo teatral “O Espectador” no Teatro Poeira, no Rio de Janeiro.

Ativa como sempre foi, a atriz quer continuar fazendo seus trabalhos no teatro e no cinema e, para isso, ela diz que ter autoconfiança é fundamental.

“Faço psicanálise e não paro. Tenho meus erros, minhas dificuldades, minhas limitações, quero sempre lidar com eles e expandir meus espaços”.

O espaço cinematográfico que ocupa no momento é com o filme “Duetto”, dirigido por Vicente Amorim. Ambientado em 1965, na Itália e no Brasil, o filme conta a história de Lucia (Marieta Severo) e sua relação com a neta Cora (Luisa Arraes).

Depois da morte do pai de Cora, ambas vão morar na Itália com o intuito de mudar um pouco de ares. Ao chegarem lá, somos apresentados à irmã de Lucia, Sofia (Elisabetta de Palo) e, de cara, já se percebe um ressentimento escondido entre as duas, fruto de algum trauma de anos atrás.

“A perda de um filho é o que leva essa mulher a refazer os laços com o passado dela, é muito violento, drástico e muito modificador, porque acho que Lucia faz o que ela faz em função da construção da vida da neta”, diz Marieta.

Na verdade, tudo nesse filme é dito nas entrelinhas e no silêncio. Há a relação familiar permeada por segredos, o luto de uma filha que projeta o pai em tudo que vê e a própria atmosfera política do longa.

A ditadura militar no Brasil havia começado fazia um ano e a Itália passava por uma crise econômica grave. Não se trata de um filme político, mas, com certeza, a política paira no ar durante o longa-metragem inteiro, afetando, inclusive, as vidas dos personagens.

“É preciso haver um conhecimento por parte da população de que a ditadura é o pior dos regimes”, diz Marieta.

Quando perguntada sobre as mudanças que gostaria de ver no Brasil para o futuro, ela exclama “Nossa, mãe!”, e responde:

“Em primeiro lugar, afastar o perigo de um regime autoritário, é a coisa que mais me angustia. Sei o que é viver minha juventude em um regime ditatorial, que era violento, que torturava, que fazia horrores com as mulheres”.

Por fim, ela diz que não vale a pena se alongar sobre isso, mas finaliza dizendo que um resgate social do país nos próximos anos é essencial.

A política está ali, mas é o formato intimista do longa seu verdadeiro trunfo.

São histórias sensíveis que vão se entrelaçando, com mulheres complexas, polêmicas e reais.

“Acho que o filme tem essa capacidade de penetrar no cerne humano sem dourar quem tem razão”, diz Marieta Severo. “São quatro mulheres ali, se desconstruindo, se reconstruindo, em situações muito difíceis, muito penosas, mas que vão sendo resolvidas”.

Luisa Arraes, que interpreta Cora, concorda.

Ela diz que, normalmente, personagens femininas são mais rasas que uma piscina de criança.

“Isso acontece em Hamlet por exemplo. Você tem a Ofélia, aquele saco de personagem em comparação aos personagens masculinos que são mais complexos”.

Luisa agradece Vicente Amorim por conduzir a história dessas mulheres de uma forma tão respeitosa.

“Eu devo muito às atrizes com quem eu trabalhei: a Marietta, a Luisa, a Elisabetta”, diz o diretor. “Fui apenas um acessório para essa história feminina”.

Para Vicente Amorim, a vantagem de ser fazer um filme de época é a não-intervenção da tecnologia nas relações. No filme, elas vão de relações familiares até as amorosas.

“Não há como fazer um drama contemporâneo que não seja mediado pela falta de tecnologia, sem isso, a relação entre os personagens de intensifica”, diz o diretor.

Com informações da CNN Brasil.

Cibelle Freitas
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