Editorial: Uma questão de saúde pública 13/01/2023

Viver não deveria ser sinônimo de sofrimento.

Burnout, estresse, depressão e ansiedade, infelizmente, são diagnósticos cada vez mais comuns em nosso tempo.

Janeiro é o mês dedicado ao autocuidado emocional, ou seja, para lembrarmos de que precisamos cuidar, também, da nossa saúde mental.

E não teria melhor época, pois com o novo ano, surge uma nova expectativa sobre mudanças e melhorias na vida das pessoas.

Com foco de prevenir doenças emocionais como depressão e ansiedade, ao mesmo tempo em que promove debates saudáveis sobre autocuidado psicológico, a iniciativa do Janeiro Branco começou em 2014 com psicólogos de Minas Gerais e espalhou-se pelo Brasil.

O Janeiro Branco incentiva mudanças no estilo de vida, compreensão dos sentimentos, equilíbrio emocional e bem-estar.

Na América Latina, o Brasil é o país com maior prevalência de depressão, além de ser o segundo nas Américas, conforme dados da Organização Mundial da Saúde, a OMS.

Com o lema A Vida Pede Equilíbrio, a campanha Janeiro Branco, uma iniciativa originalmente brasileira, debate neste ano a necessidade de um equilíbrio diante de mudanças cada vez mais

desafiadoras e aceleradas que, também, exigem novas atitudes, novas habilidades, novos entendimentos e novos comportamentos.

De acordo com o coordenador de Medicina Ocupacional do Seconci, Alexandre Costa, que participou, na terça-feira, do Jornal da Cruzeiro no quadro Mãos à Obra, entre os transtornos mentais mais comuns estão a demência; o delirium; o transtorno congnitivo leve; o transtorno orgânico de personalidade; o alcoolismo crônico; o episódio depressivo; o transtorno de estresse pós-traumático; a síndrome da fadiga; a neurose profissional; a síndrome do esgotamento profissional, que é a burnout; e o suicídio.

Dados da Previdência Social apontam que episódios depressivos ocupam a 10ª posição de doença com mais afastamentos.

Já doenças classificadas como outros transtornos ansiosos também estão entre as que mais afastaram, na 15ª posição, com 28,9 mil casos.

O transtorno depressivo recorrente apareceu na 21ª posição, com 20,7 mil auxílios.

O médico reforça a importância de ficar atento a sintomas de transtornos mentais e comportamentais, tais como mudanças inexplicáveis de humor, tristeza profunda, ansiedade exagerada, apatia, perda de interesse, sofrimento emocional intenso, automutilação, choro excessivo e isolamento social.

Ao perceber esses sintomas, entre outros, a pessoa deve procurar a ajuda de um profissional.

Assim, diante de toda essas condições, o Janeiro Branco vem num momento importante para a sociedade brasileira, em especial, por se tratar de um novo ano com expectativas de vida renovadas.

Porém, para quem sofre  de transtornos mentais como ansiedade e depressão, essa época do ano é uma das piores.

Seja pela frustração de objetivos não alcançados, pelo estresse das festas de final de ano ou mesmo por não conseguir estar na mesma sintonia que familiares e amigos, por exemplo.

Por isso, o médico e psicanalista Hang-Ly Ikegami Rochel, que participou ontem do Jornal da Cruzeiro, enfatizou em sua entrevista aos jornalistas Fábio Andrade e Cibelle Freitas que saúde mental é sim problema de saúde pública por diversas razões.

Portanto, é imperativo que os municípios, em especial, tenham uma rede pública de proteção à saúde mental eficiente.

Os Caps, Centros de Atenção Psicossocial, são um bom exemplo da preocupação do governo municipal com a saúde mental das pessoas.

Nesta época do ano, o índice de suicídios aumenta, fazendo com que a preocupação das autoridades em saúde se preocupem com a população.

O médico psicanalista Hang-Ly afirmou que as mídias sociais isolaram muito as pessoas, fizeram com que elas falassem menos uma com as outras.

As redes sociais também são responsáveis por criar uma tendência na humanidade de que somente coisas boas é que importam.

Ninguém fala mais sobre tristezas e outras frustrações e, o tempo todo, sentem a necessidade de mostrar em fotos ou vídeos que sempre está bem, quando, na verdade, não está.

Essa exigência da tecnologia tem produzido muitos problemas de saúde mental, a ponto de grandes influencers, por exemplo, abrirem mão de algumas plataformas digitais por se sentirem escravos desse tipo de produção.

Portanto, é necessário que as pessoas conversem e que falem sobre seus medos, anseios, tristezas e frustrações com outras pessoas; é necessário que esses temas sejam abordados para que o indivíduo acometido de um mal como este tenha a chance de poder se recuperar e, em muitos casos, salvar a própria vida.

Em Sorocaba, outro exemplo de um bom lugar para a pessoa falar de seus anseios e medos, entre outros sentimentos negativos,  é o CVV, o Centro de Valorização à Vida.

Em 2022, foram feitos mais de 110 mil atendimentos, um número considerado e que chamou muito a atenção dos mantenedores desse serviço essencial à vida.

O CVV, inclusive, conforme o coordenador de divulgação Alcebíades Alvarenga, está com inscrições abertas para o curso gratuito de formação de voluntários.

Para participar é necessário ter no mínimo 18 anos e disponibilidade de 4 horas semanais para o plantão de atendimento.

Ao todo, serão oito encontros de quatro horas, todas às quartas-feiras, das 7 às 11 da noite.

As aulas começam no dia 18 de janeiro, próxima quarta-feira, e as inscrições podem ser realizadas até a data de início do curso.

O objetivo dessa formação é ampliar a disponibilidade do serviço de apoio emocional, que já ajudou a resgatar muitas vidas.

Então, conforme sugere o médico e psicanalista Hang-Ly, não vamos deixar de usar as ferramentas tecnológicas, que são importantes para o desenvolvimento da humanidade, mas não vamos deixar, também, nossa humanidade de lado;

Precisamos continuar conversando e nos relacionando com outras pessoas.

Portanto, sempre que algum amigo ou familiar, e até mesmo nós, precisar de um profissional em saúde mental, que sejamos os primeiros a estender as mãos e ajudar essa pessoa a escapar de um eventual precipício emocional.

Cruzeiro FM, com você o tempo todo!!!