Editorial

Editorial: Rio urbano 17/03/2023

Em apenas 15 dias, Sorocaba ultrapassou a média histórica de chuva para o mês de março, que é de 290 milímetros.

Desde o dia primeiro deste mês, até quarta-feira desta semana, foi registrado um total acumulado de 309 milímetros; e o mês ainda nem acabou.

Ao considerarmos o volume de precipitação registrado no município nos primeiros 64 dias deste ano, as chuvas atingiram 1.474 milímetros, representando, assim, o índice pluviométrico mais elevado para o período nos últimos dez anos.

As consequências desses números podem ser medidas por meio dos estragos e transtornos causados desde o início de janeiro em Sorocaba.

Houve quedas de árvores e muros, alagamentos, pessoas ilhadas e destelhamentos de residências em vários bairros.

A Cruzeiro FM e o jornal Cruzeiro do Sul trouxeram histórias dramáticas de famílias que moram, por exemplo, no Jardim Maria do Carmo, que fica ao lado do Parque das Águas; um espaço criado na gestão do então prefeito Vitor Lippi, do PSDB, para servir como um piscinão de contenção das águas espraiadas pelo rio Sorocaba.

Moradores dessas regiões alagadiças, como a do Jardim Maria do Carmo, sofreram um dia após o outro ao longo das últimas semanas, justamente porque, enquanto tentavam se recuperar de uma quantidade grande de chuva de um dia, enfrentavam mais um episódio de cheias no dia seguinte.

Isso acabou com os bens de muitos sorocabanos, como, por exemplo, o caso de uma moradora que precisou trocar quatro vezes o motor da geladeira e, agora, mais recentemente, terá de comprar uma nova.

Para ajudar famílias prejudicadas pelas enchentes, o prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga, do Republicanos, enviou, nesta semana, à Câmara de Vereadores, um projeto de Lei para reembolsar essas pessoas com valores de até 10 salários mínimos.

De acordo com o prefeito, os vereadores deverão, até pela sensível situação desses sorocabanos, aprovar o projeto de forma célere e sem intercorrências.

E isso é mais do que uma ação humanitária, é, principalmente, uma forma de mitigar os prejuízos financeiros causados a esses moradores em decorrência do volume de chuvas surpreendente desta última década.

Os reflexos do problema com as enchentes ocorrem também no sistema viário da cidade, interditando vias e danificando o asfalto em diversos pontos.

Mas o que de fato vem ocorrendo com o clima, que trouxe uma grande quantidade de chuva para nossa região desde outubro do ano passado, e por que os problemas de épocas passadas voltam a acontecer mesmo com obras realizadas por governos ao longo do período, como o alteamento da avenida Dom Aguirre e o Parque das Águas?

O repórter André Fazano conversou ontem com o vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sorocaba e Médio Tietê, o professor e biólogo André Cordeiro Alves dos Santos, que esclareceu alguns pontos relacionados à questão.

De acordo com o especialista, as regiões que margeiam o rio Sorocaba, como é o caso, por exemplo, da avenida Dom Aguirre e da avenida 15 de Agosto, vão sempre sofrer com as inundações, não adianta fazer intervenções, pois o local onde ficam as avenidas é área de várzea do rio que irá tomar conta sempre que o nível se elevar.

O Parque das Águas é outro exemplo de região que sempre vai alagar quando o rio subir.

Fazer a dragagem do rio ajuda, mas não resolve a questão, pois há outras intervenções que precisam ser feitas pelo governo municipal.

As construções dos chamados RDCs, Reservatórios de Detenção de Cheias, são mecanismos interessantes para conter as cheias provocadas pelo transbordamento de córregos e rios.

E enquanto a cheia vai se esvaindo quando a chuva para, ao mesmo tempo o sistema vai liberando o excesso de água naturalmente sem prejudicar a mobilidade das pessoas.

Contudo, segundo o professor e vice-presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica, isso não é o suficiente, o que precisa ser feito é um planejamento adequado para que a cidade possa crescer de maneira ordenada.

Porque, conforme a urbanização das cidades vai acontecendo, a impermeabilização do solo também.

É natural que o crescimento das cidades aconteça sempre a partir das partes mais altas, já que os rios e córregos ficam nas partes mais baixas, de modo que recebem não só a água natural como toda a quantidade de água de chuva que vai descendo das partes altas e impermeabilizadas.

Então, planejar a cidade é o principal ponto para se resolver essa questão, pois, se isso não ocorrer, a tendência é de que a situação piore nos próximos anos por conta dos ciclos da natureza, que vão ficando cada vez mais agressivos.

Dessa forma, podemos concluir que a solução dos problemas de enchentes e alagamentos nas cidades depende da atuação dos gestores públicos em se tornarem cada vez mais eficientes no que se refere ao crescimento pleno e ordenado das cidades.

E para que isso aconteça é fundamental que se tenha inteligência técnica suficiente para um planejamento eficaz.

Cruzeiro FM, com você o tempo todo!!!

Cibelle Freitas
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