O sítio arqueológico de Tel Lachish, localizado em Israel, preserva muitas histórias, entre elas a dos seus habitantes – pessoas importantes da elite do Reino de Judá -, e as fortificações feitas pelo rei Roboão em meados do século 14 a.C. Depósitos de víveres, jarros de azeite e de vinho e cerâmicas importadas encontradas nas escavações arqueológicas sob a direção do professor e arqueólogo Yosef Garfinkel, chefe do Instituto de Arqueologia da Universidade Hebraica de Jerusalém, comprovam a veracidade dessas histórias.
“É muito interessante ver a história se tornando real e não algo que alguém te contou ou escreveu, pesquisou, concluiu, mas que você não participou”, conta Yohanan Moraes, pós-graduando em Arqueologia do Antigo Oriente Próximo e Mediterrâneo do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), e recém-formado pela Tel Lachish Archaeological Field School da Universidade Hebraica de Jerusalém.
Yohanan Moraes, na verdade, se chama João Batista Moraes Filho, contudo, usa seu nome israelita — Yohanan, que significa João em hebraico -, para fins profissionais. Ele é natural de Tatuí e formado em Filosofia pela Universidade de Sorocaba (Uniso). No mês passado, teve a experiência de, durante duas semanas, participar das escavações arqueológicas em Tel Lachish.
“Essa escavação faz parte de uma série de outras que têm sido feitas nesse sítio arqueológico”, relata. “Tel Lachish é um dos sítios mais importantes que existem não só em Israel, mas no mundo inteiro, devido à abundância de informações que existem a respeito e dentro dele”, complementa. Durante as escavações também foram encontrados materiais bélicos, como pontas de lanças e flechas quebradas. “Essa é a comprovação dos conflitos intensos que aconteceram na cidade”, explica o arqueólogo.
A História de Tel Lachish
O sítio arqueológico de Tel Lachish, também conhecido como Laquis, está localizado em uma colina no sul das montanhas da Judeia. Ao longo da sua história, a cidade dominou a antiga rota comercial Via Maris, entre o Egito e Jerusalém, e prosperou nos séculos 13 a 12 a.C. – período cananeu, sob o domínio egípcio -, tornando-se a segunda maior cidade do reino de Judá — a primeira é Jerusalém, a capital política e espiritual.
Há 25 referências bíblicas e extrabíblicas em registros egípcios e assírios a respeito da cidade de Laquis, entre eles as fortificações realizadas pelo rei Roboão, filho do rei Salomão, documentadas no livro 2 Crônicas, no capítulo 11, versículo de 5 a 12: “Roboão habitou em Jerusalém e, para defesa, fortificou cidades em Judá; fortificou, pois, a Belém, a Etã, a Tecoa, a Bete-Zur, a Socó, a Adulão, a Gate, a Maressa, a Zife, a Adoraim, a Laquis, a Azeca, a Zorá, a Aijalom e a Hebrom, todas em Judá e Benjamim, cidades fortificadas. Assim, as tornou em fortalezas e pôs nelas comandantes e depósitos de víveres, de azeite e de vinho. E pôs em cada cidade arsenal de paveses e lanças; fortificou-as sobremaneira”.
As informações sobre essa fortificação podem ser confirmadas pelos resultados da escavação. Mais dados podem ser obtidos para reconstruir a história da época, como, por exemplo, a conquista de Laquis pelos israelitas no final do século 12 a.C. “Nós encontramos possíveis peças de pinturas canaalitas com desenhos israelitas por cima, que apontam uma relação de comércio entre os povos israelitas com os cananeus que habitavam ali. Contudo, só podemos afirmar de fato após as análises laboratoriais das peças”.
Nos dias atuais, a cidade do Antigo Oriente Próximo recebe alunos da Tel Lachish Archaeological Field School no período das férias para escavações arqueológicas – requisito obrigatório da Universidade Hebraica de Jerusalém -, e também tornou-se o Parque Nacional Israelense.
Yohanan participou do primeiro grupo de brasileiros a ir em uma expedição arqueológica em Israel, e descreve a experiência como um trabalho árduo, mas muito interessante. “Você trabalha intelectualmente como um acadêmico e fisicamente como um pedreiro! A maior parte do trabalho não é divertido: nós montamos acampamento, armamos tendas, tiramos muita terra e muita areia. Mas consegui ver tudo aquilo que aprendi na teoria funcionando na prática e colaborei”.
As escavações, de fato, duraram uma semana. Os trabalhos começavam nas primeiras horas do dia, às 5h, e se encerravam às 13h. Já as aulas teóricas estendiam-se até o período da noite, por volta das 20h. Na segunda semana foram feitas pesquisas técnicas em outros sítios arqueológicos importantes de Israel que, na opinião de Yohanan, criou um contexto muito relevante para a compreensão da importância desses locais.
“No Brasil, apesar de existirem caminhos para você ser reconhecido como arqueólogo, muitas vezes esses caminhos não permitem que você tenha a qualificação necessária para exercer a profissão”, diz Yohanan. “Felizmente, assim por dizer, em Israel existe o interesse de resgatar a história, devido a conflitos entre grupos políticos opostos aos judeus, que alegam que eles não têm direito à terra de Israel. Portanto, toda vez que encontram uma evidência histórica, se ressalta o vínculo do povo com a terra e, consequentemente, fortalece a identidade nacional e reduz um pouco o preconceito por parte dos grupos políticos”. (Com informações do jornal Cruzeiro do Sul)
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