Os Bancos Centrais do Brasil e dos Estados Unidos anunciam nesta quarta-feira (31) suas decisões sobre os juros.
No Brasil, a divulgação ocorre em meio ao arrefecimento nos índices de inflação que medem os preços de diferentes cestas no país.
O IPCA, que mede a inflação oficial, encerrou o ano passado em alta de 4,62%. O número é menor que os 5,79% registrados em 2022, e ficou abaixo do teto da meta pela primeira vez desde 2020.
O IGP-M, usado para reajustar contratos de aluguéis, mostrou desaceleração em janeiro, começando o ano sob efeito do arrefecimento dos preços das matérias-primas brutas, de acordo com a Fundação Getulio Vargas (FGV) nesta terça-feira (30). Contratos de energia elétrica e até mensalidades de escolas e universidades podem ser reajustados a partir do índice.
Tendo em vista esse cenário, analistas acreditam que o ritmo de cortes da Selic, taxa básica de juros, pelo BC, deve se manter em meio ponto percentual, para 11,25% ao ano.
“[A queda da inflação] mostra que o Banco Central está no caminho certo”, avalia o economista da FGV/Ibre, André Braz, que é coordenador dos índices de preço da Fundação.
“Acho que o ritmo se mantém, por ora, fazendo com que a Selic convirja a 9% até o fim do ano de 2024”, pontua o economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto.
Após três anos em um ciclo que levou a taxa Selic ao patamar de 13,75%, o BC realizou o primeiro corte em agosto de 2023.
Em dezembro, o presidente do banco, Roberto Campos Neto, avaliou que o cenário atual permite que sejam realizados novos cortes de 0,5 p.p. nas próximas reuniões do Copom.
Em novembro, Campos Neto defendeu que o ritmo era válido para os encontros de dezembro e o de janeiro, mas que dali em diante iria “depender de várias coisas”.
Em comunicado após a decisão de dezembro, que levou a Selic ao patamar atual de 11,75%, o BC adiantou a manutenção do corte em janeiro, mas reforçou cautela na política monetária devido a incertezas no cenário exterior.
Os especialistas também notam os riscos no horizonte, mas Salto destaca o avanço da agenda econômica do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como um contrapeso importante na balança.
“O risco fiscal é sempre uma variável a ser mapeada, mas não vejo nenhum problema iminente”, diz o economista-chefe da Warren.
Apesar dos números favoráveis de inflação e no mercado de trabalho brasileiro, Braz também defende a cautela do BC tendo em vista os riscos que o El Niño traz para a agricultura; a dívida pública e meta fiscal; e as guerras que ocorrem no mundo
“[Os bons indicadores] não oferecem subsídio para cortar juros mais rapidamente, porque a gente ainda tem esse cenário de riscos que é muito grande”, avalia Bráz.
“O Banco Central deve continuar cortando meio ponto, mas ainda de olho nessas incertezas.”
Outro elemento que pode impactar no comportamento dos juros no Brasil é a postura adotada pelo Fed, segundo o analista da Equus Capital, Felipe Vasconcellos.
“Um ritmo mais acelerado de cortes por parte do Fed criaria um cenário mais benigno para a redução das taxas de juros brasileiras”, afirma Vasconcellos.
“O BC teria mais liberdade para manejar o juro no curto prazo sem riscos sobre câmbio e inflação”, explica Felipe Salto.
Contudo, os cortes por lá não devem vir tão cedo, de acordo com as próprias autoridades do banco central norte-americano, e devem se manter inalterados nessa reunião.
Enquanto o Fed destaca um certo otimismo na economia do país e alguns dirigentes já observem um “pouso suave”, as autoridades se dividem com alguns acreditando ser cedo demais para discutir o começo dos cortes.
Posicionamentos como estes tem frustrado investidores. Há um mês, quase 90% do mercado esperava que os cortes deveriam começar na reunião de março, de acordo com a ferramenta CME FedWatch.
Na terça-feira, menos de 40% apostavam na próxima reunião como início do ciclo. O mercado adiou a previsão dos cortes para maio, quando 82% dos investidores veem a primeira redução.
Apesar de os índices de inflação nos EUA mostrarem sinais de controle, o mercado de trabalho aquecido ainda gera receios para o Fed.
Em dezembro, as vagas de emprego disponíveis no país – uma medida da demanda por mão de obra – aumentaram em 101.000, chegando a 9,026 milhões, informou o Departamento do Trabalho em seu relatório mensal Jolts nesta terça-feira.
A alta acima das expectativas sugere que o mercado de trabalho provavelmente continua forte demais para que o Federal Reserve comece a cortar os juros no primeiro trimestre.
“Eu acho que a prioridade do Fed era controlar a inflação, e os últimos números do CPI americano e do comportamento dos núcleos mostram que a autoridade monetária está no caminho”, avalia André Braz.
“[Porém], eu acho que o banco central espera não só um arrefecimento mais consistente da inflação como também uma resposta de menor aquecimento do próprio mercado de trabalho, que ajuda a sustentar inflação alta por mais algum tempo.”
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