Entre os dias 6 e 16 de junho acontece o Festival Sesc de Música de Câmara, um dos mais importantes encontros nacionais voltados à produção camerística. Para contar várias “histórias”, a edição reúne intérpretes do Brasil e de seis países, entre cantores e instrumentistas. Ao todo são 26 concertos, contando uma ópera infantojuvenil, distribuídos em quatro unidades do Sesc São Paulo na capital e interior. Só no Sesc Sorocaba serão seis espetáculos no Teatro da unidade.
Com curadoria de Claudia Toni, Cristian Budu e Ricardo Ballestero, a programação reúne grupos de diversas formações, como trio, sexteto, orquestra de câmara e coral, e visa atrair espectadores de todas as idades. E tem ainda uma ópera baseada em um conto dos Irmãos Grimm interpretada por soprano e percussão.
Os ingressos para os concertos no Sesc Sorocaba custam R$ 50 (inteira), R$ 25 (meia-entrada) e R$ 15 (Credencial Plena), com exceção o espetáculo infantojuvenil que custará R$ 30 (inteira), com opções de meia-entrada e Credencial Plena, e entrada gratuita para crianças de até 12 anos. Os ingressos podem ser adquiridos a partir das 17h de 28 de maio, on-line via aplicativo Credencial Sesc SP ou no site sescsp.org.br/musicadecamara, e nas bilheterias das unidades do dia 29 em diante.
Para Luiz Deoclecio Massaro Galina, diretor regional do Sesc São Paulo, “A música de concerto é sistematicamente contemplada nas programações oferecidas pelo Sesc e a realização de um festival dedicado a esse gênero musical configura o compromisso da instituição para a ampliação das pesquisas, referências e especulações sobre os modos de se conceber hoje esse tipo de música. O Festival Sesc de Música de Câmara comparece como segmento particularmente afim aos valores cultivados pelo Sesc, sobretudo no quesito da democratização do acesso ao universo dos concertos instrumentais e vocais, tanto do ponto de vista da recepção quanto da perspectiva do fazer”.
Ao reunir um elenco diverso e programas originais, o Festival traz um olhar especial para a música e os músicos da América Latina, incluindo jovens artistas brasileiros que dividem o palco com intérpretes de diferentes países. Obras pertencentes a importantes coleções de música histórica sul-americana, incluindo repertório vocal com acompanhamento instrumental, integram um dos programas. Datadas dos séculos 17 e 18, tais coleções refletem a produção das missões jesuíticas fundadas entre os povos indígenas do continente, em especial na Bolívia na década de 1670.
DESTAQUES – Dirigido por Ashley Solomon, o conjunto especializado em música barroca Florilegium é tido como um dos mais notáveis da Grã-Bretanha. Chefe do Departamento de Performance Histórica na Royal College of Music de Londres, Ashley, que atuará como flautista, contribuiu para a formação do Coro Arakaendar da Bolívia, com sede em Santa Cruz de la Sierra, outra atração do Festival.
Completam a programação, o grupo La Sociedad Boliviana de Música de Cámara,liderada por Camila Barrientos – clarinetista chefe de naipe na Orquestra Sinfônica Municipal – e Bruno Lourensetto – trompetista principal da Bachiana Filarmônica e trompetista convidado da Portland Baroque Orchestra. São destaque nos concertos os solistas Fabio Cury (fagote), Joachim Emídio (percussão), as cantoras Juliana Taino e Laiana Oliveira e o versátil regente e compositor holandês Leonard Evers, que dirige dois programas e é autor de O Peixe Mágico, ópera infantojuvenil presente no Festival.
ESTREIAS – Formado pelo destacado violonista brasileiro Plínio Fernandes, o violinista britânico Braimah Kanneh-Mason e a violoncelista e cantora holandesa Hadewych Van Gent, o Trio Peckham vem ao Brasil pela primeira vez. Eles interpretam uma encomenda do Festival feita ao jovem compositor brasileiro Rafael Marino Arcaro, que há dois anos viu outra peça de sua autoria estrear pela London Philharmonic Orchestra. Em outro programa do Festival, serão ouvidos dois ciclos de canções das compositoras brasileiras Helza Camêu (1903-1995) e Dinorá de Carvalho (1905-1980) em arranjos inéditos assinados por Denise Garcia e Silvia Berg, respectivamente.
A programação do Festival Sesc de Música de Câmara traz ainda atividades educativas voltadas à reflexão acerca da criação e interpretação da música de concerto no Brasil e no mundo, com bate-papo, palestra, um seminário e vivência para crianças nas unidades do Sesc São Paulo na capital. Para conferir a programação completa do Festival, acesse o site sescsp.org.br/musicadecamara.
Concertos
Sons da América
O conjunto instrumental britânico Florilegium, dirigido por Ashley Solomon, faz um concerto dedicado à música colonial latino-americana com o Coro Arakaendar da Bolívia, grupo fundado por Ashley, e jovens músicos da EMESP – Escola de Música do Estado de São Paulo. Em Sons da América, o sexteto formado por flauta, violinos, viola, violoncelo e teclados, e o coro boliviano interpretam repertório pertencente aos Arquivos das Missões Jesuíticas de Chiquitos, na Bolívia, um dos mais antigos acervos de música colonial de toda a América Latina.
O programa é dedicado aos manuscritos encontrados nesses importantes arquivos, como os motetos “Cantemus Domino” e “Gloria et honore” de Johann Joseph Ignaz Brentner (1689-1742), a “Missa encarnacion” de Giovanni Battista Bassani (1657-1716), “Villancicos” de Juan Araujo (1646-1712) e duas obras de autoria anônima, “Sonata Chiquitana n. XVIII”. Como no Brasil a música histórica é igualmente rica, completa o programa o “Recitativo e Ária para José Mascarenhas” (1759), de autor anônimo da Bahia, obra capital de nosso repertório que Alina Delgadillo atuará como solista.
Suíte Barroca
Especializado em música antiga, o Florilegium também apresenta o programa Suíte Barroca na companhia de jovens musicistas do Núcleo de Música Antiga da EMESP, o único do gênero no país e com grade curricular espelhada nas melhores escolas da Europa, de jovens intérpretes convidados e com a participação do fagotista Fabio Cury.
O repertório inclui Johann Sebastian Bach (1685-1750) com sua “Suíte orquestral nº 2 para flauta, cordas e baixo contínuo”, que expressa bem os caminhos pelos quais a música germânica caminhava na primeira metade do século 18. A peça reúne seis movimentos de dança que remetem ao modelo francês, com a presença do traverso (que corresponde à flauta transversal moderna) em todos os movimentos e que remonta à virtuosidade dos músicos italianos.
Completam o programa duas obras de Georg Philipp Telemann (1681-1767), tido com um dos compositores mais prolíficos do século 18, a “Ouverture-Suíte para três oboés, fagote, cordas e baixo-contínuo” e o “Concerto para flauta doce, fagote, cordas e baixo-contínuo”, ambas com um ponto em comum: o interesse do autor em reunir gostos contrastantes em um só estilo. Encerra o programa a “Sinfonia nº 4 para cordas e contínuo”, composta por Carl Philipp (1714-1788), um dos muitos filhos de J. S. Bach.
Cordas tangidas e friccionadas em 300 anos de história
Formado pelo violonista Plínio Fernandes, tido como um dos principais nomes da nova geração do país neste instrumento, o violinista britânico Braimah Kanneh-Mason e a violoncelista e cantora holandesa Hadewych Van Gent, o Trio Peckham faz a sua estreia no Brasil. Em Cordas tangidas e friccionadas em 300 anos de história, eles tocam de J. S. Bach (1685-1750) à música contemporânea. E a peça que abre o concerto é uma bela introdução ao universo sonoro proposto para este programa: o “Largo”, segundo movimento da quinta “Trio Sonata” de Bach, escrita para órgão e transcrita pelo Trio para essa formação.
Na outra ponta do programa, a “Sonata para violão e violoncelo” é uma das obras camerísticas de Radamés Gnatalli (1906-1988) mais executadas, “Da História do tango”, de Astor Piazzola (1921-1992), originalmente escrita para flauta e violão e tida como uma das mais célebres obras do maestro argentino, e a estreia de “Três noturnos para ninar cigarras op. 24”, uma encomenda do Festival ao jovem compositor brasileiro Rafael Marino Arcaro. Com mestrado em composição na Royal Academy of Music e doutorando no King’s College London sob orientação de George Benjamin, o músico radicado em Berlim vem chamando a atenção por suas criações. Em 2022, viu outra obra de sua autoria ganhar os palcos pela primeira vez em programa da London Philharmonic Orchestra.
O programa inclui ainda um movimento do “Duo para violino e cello op. 7” do húngaro Zoltán Kodály (1882-1967) e dois movimentos de “Terzetto em ré maior op. 66 para violino, violoncelo e violão”, do músico genovês Niccolò Paganini (1782-1840), que sempre cultivou o violão como seu segundo instrumento, depois do violino.
A História do Soldado
Criado há dez anos com a missão de democratizar o acesso à música de concerto, o grupo La Sociedad Boliviana de Música de Cámara apresenta no Festival dois repertórios sob a batuta do maestro e compositor holandês Leonard Evers. O primeiro é A História do Soldado, peça de Igor Stravinsky (1882-1971) escrita para sete instrumentos, narrador e três personagens a partir de texto do poeta suíço Charles Ferdinand Ramuz (1878-1947), que se tornou uma referência para a composição musical no século 20.
A obra de Stravinsky descreve um embate malicioso, no qual o violino é uma metáfora da alma pura do soldado, que o diabo tenta roubar para si. A versão adaptada e traduzida que será apresentada no Festival tem a assinatura do autor boliviano radicado no Brasil Gabriel Mamani. Vencedor do Prêmio Nacional de Romance da Bolívia (2019) e tido como um dos mais importantes autores em cena hoje, ele está lançando neste mês seu novo romance pela editora Todavia. E narração e direção de cena são de Leonardo Ventura.
Outras Histórias
Em outro programa,a La Sociedad Boliviana de Música de Cámara, novamente sob a regência de Leonard Evers, interpreta dois ciclos de canções escritas pelas compositoras brasileiras Helza Camêu (1903-1995) e Dinorá de Carvalho (1905-1980). Por encomenda do Festival, as canções originais foram arranjadas, respectivamente, pelas compositoras Denise Garcia e Silvia Berg para voz e a mesma instrumentação de A História do Soldado, de Stravinsky.
Dos diversos manuscritos a que teve acesso, Denise Garcia selecionou quatro canções da carioca Helza e as transformou em uma única obra, com a percussão solo conectando uma canção a outra. As quatro canções que compõem o ciclo são Canto, A Sombra do Rio, Noitinha e Noturno.
Já a compositora Silvia Berg preparou uma série de arranjos expandidos de cinco canções de Dinorá de Carvalho, compostas entre 1933 e 1974, que em suas concepções originais foram escritas para voz e piano. São elas: Quin-gue-lê; Coqueiro, Coqueiro-irá; Ê bango-bango-ê; Quibungo-tê-rê-rê e O Pipoqueiro. Juliana Taino, mezzo-soprano, será a solista dos dois ciclos de canções.
Completa o programa “O Rouxinol”, do holandês Theo Loevendie (1930). Baseada no conto “O Rouxinol e o Imperador” de Hans C. Andersen (1805-1875), ela também foi escrita para os mesmos sete instrumentos utilizados por Stravinsky em A História do Soldado e terá a narração do baixo-barítono Eduardo Janho-Abumrad.
O Peixe Mágico [um espetáculo infantojuvenil]
A soprano Laiana Oliveira e o percussionista Joachim Emídio protagonizam a ópera contemporânea O Peixe Mágico, escrita por Leonard Evers, com libreto da dramaturga e diretora Flora Verbruggee e baseada no conto “O Pescador e sua Mulher” dos Irmãos Grimm. Um espetáculo para crianças e famílias que terá direção musical do próprio Evers e direção de cena e iluminação de Aline Santini, com cenários e figurinos de Silvana Marcondes. Importante papel têm as crianças que compõem a plateia, pois a elas cabe interpretar o mar, atuando ao longo de todo o espetáculo.
Evers escreveu a ópera em 2012, quando trabalhava no teatro juvenil Sonnevanck, localizado na cidade holandesa de Enschede. O ponto de partida foi sua preocupação com os efeitos da ganância na vida das crianças e da sociedade em geral. Após escutas realizadas com crianças, pais e professores, a decisão foi adaptar a história original dos Irmãos Grimm e colocar como personagens principais Juca, um menino, e seus pais. Certo dia, Juca pesca um peixe, que promete realizar seus desejos se o menino o devolvesse ao mar. De um desejo surge outro até que o menino, estimulado pelos pais, pede o mundo inteiro para si.
A parte musical torna a produção orgânica, na qual música, fala e narrativa estão intimamente relacionadas. Para essa criação, Evers estabeleceu dois objetivos: encorajar a imaginação evocando imagens e atmosferas, e que a música expressasse as emoções dos personagens de uma forma convincente, não paródica. E conseguiu. Após muitos ensaios com voz e vibrafone, e adicionando mais percussão, como a marimba e vários outros pequenos instrumentos percussivos, a história se revela.
CONCERTOS no Sesc Sorocaba:
La Sociedad Boliviana de Música de Cámara (Bolívia/Brasil)
A História do Soldado
7/6 (sexta), 20h
Trio Peckham (Brasil/Holanda/Inglaterra)
Cordas Tangidas e Friccionadas em 300 anos de História
8/6 (sábado), 20h
Florilegium e Ensemble Jovem – Jovens Solistas da EMESP (Inglaterra/Brasil)
Suíte Barroca
9/6 (domingo), 19h
Florilegium, Coro Arakaender e Ensemble Jovem – Jovens Solistas da EMESP (Inglaterra/Bolívia/Brasil)
Sons da América
14/6 (sexta), 20h
La Sociedad Boliviana de Música de Cámara (Bolívia/Brasil)
Outras Histórias
15/6 (sábado), 20h
Laiana Oliveira (soprano) e Joachim Emídio (percussionista)
O Peixe Mágico (Brasil/Holanda) – Ópera Infantojuvenil
16/6 (domingo), 16h
Serviço
5ª edição Festival Sesc de Música de Câmara
Quando: 6 a 16 de junho de 2024.
Onde: no Sesc Sorocaba
Endereço: Rua Barão de Piratininga, 555
Ingressos concertos
R$ 50 (inteira), R$ 25 (meia-entrada) e R$ 15 (Credencial Plena).
Exceto o espetáculo O Peixe Mágico que terá valores fixos de: R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia-entrada) e R$ 10 (Credencial Plena) e entrada gratuita para crianças de até 12 anos.
Vendas internet: a partir de 17h de 28 de maio (site e aplicativo).
Vendas bilheteria: a partir de 17h de 29 de maio, em toda a rede Sesc São Paulo.
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