Editorial

Editorial: Autonomia nas relações comerciais 28/06/2024

Nesta semana, as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra o presidente do Banco Central tornaram-se mais intensas e isso começou a mexer com os mercados no exterior e aqui dentro do Brasil.

Na verdade, desde o início de seu mandato, Lula vem interferindo de maneira marcante nas decisões econômicas do país, sob a justificativa de se cumprir a meta fiscal brasileira.

Na quarta-feira, declarações do presidente Lula sobre a área fiscal fizeram o dólar acelerar ganhos ante o real e as taxas dos depósitos interbancários avançarem, pesando sobre o Ibovespa,  principal índice da bolsa de valores brasileira.

O fato de o presidente demonstrar resistência a cortes de gastos pelo governo gerou mal-estar entre investidores e isso gera dificuldades na balança comercial, porque quem está lá fora e quer investir aqui acaba esperando por conta dessa instabilidade econômica.

Em entrevista no Jornal da Cruzeiro de ontem, o coordenador geral da Peiex Sorocaba, Angelo Pepe Agulha, ressaltou essa dificuldade econômica por conta das ingerências do presidente no Banco Central.

Em contrapartida, Angelo Pepe afirma que, pelo menos, em Sorocaba e região, as exportações estão em franco crescimento, em especial, no segmento tecnológico.

Em reunião do Conselhão, o presidente Lula chamou de “cretinos” aqueles que teriam atribuído a alta do dólar à entrevista que ele concedeu na quarta-feira, dia 26, quando a moeda norte-americana atingiu o maior patamar desde janeiro de 2022.

A relação entre o presidente e o chefe do Banco Central, Roberto Campos Neto, não é das melhores desde antes de o petista ocupar o Palácio do Planalto.

Na campanha presidencial, ele já condenava os juros considerados altos e criticava o trabalho da autoridade monetária.

Roberto Campos Neto veio a público nessa quinta-feira para comentar as falas do presidente Lula, porém, ele não quis entrar em embates políticos.

No entanto, Campos Neto não deixou passar em branco e ao responder a uma pergunta sobre a interferência do presidente nas decisões econômicas, ele foi taxativo e observou que, conforme mostra o comportamento do mercado em tempo real, houve piora de preços de ativos e de variáveis econômicas em momentos de pronunciamento do presidente.

Contudo, ponderou que o aumento do prêmio de risco, com volatilidade, afeta o canal das expectativas e, consequentemente, a potência da política monetária, tornando, sim, mais difícil o trabalho do Banco Central ao longo do tempo.

Da mesma forma, Campos Neto absteu-se de comentar as falas em que Lula descarta a ideia de desvincular os reajustes de benefícios previdenciários do salário mínimo.

Segundo o presidente do Banco Central, não faz sentido comentar medidas específicas relacionadas às contas públicas, acrescentando que o que importa são os desdobramentos da política fiscal na função de reação do Banco Central.

Em entrevista concedida ao UOL na quarta-feira, o presidente Lula afirmou que quem apostar no fortalecimento do dólar ante o real “vai perder dinheiro” e disse que não tinha culpa da valorização da moeda, que ontem atingiu o maior patamar desde janeiro de 2022 e segue em disparada.

O presidente também afirmou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, “sofre injustiça”, porque, segundo ele, “as pessoas que vêm, só vêm para pedir, não vêm para oferecer”.

Campos Neto contrariou o presidente Lula e o ministro da Fazenda e disse que não haverá novas altas da Selic, ao que Lula reagiu, lamentando a decisão.

Ele destacou que o Banco Central acompanha o cenário atual e segue “vigilante”.

No comunicado da semana passada e na ata de terça-feira, a autarquia já havia afirmado que “eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.

Campos Neto reiterou que os modelos usados pelo Banco Central trabalham “muito fortemente” pelo canal das expectativas, que é influenciado pelo nível do prêmio de risco do país e que impacta a política monetária.

O Banco Central tem autonomia, mas Lula nunca aceitou essa ideia e pelo simples fato de que, uma das características do presidente, é não aceitar ninguém que não respeita suas ordens.

Em maio, Lula criticou o Banco Central, dizendo que, embora seja autônomo, não é intocável e questionou o compromisso de Roberto Campos Neto com a lei que garantiu a autonomia da autarquia.

A verdade é que a falta de uma boa política de relação comercial entre as autoridades brasileiras gera incertezas e dúvidas nos investidores, que passam a ficar mais cautelosos por conta do receio de investir no Brasil.

É preciso que os poderes e as razões comerciais se respeitem mutuamente, pois só tendo essa paz nos mercados, que já são bastante agitados por natureza, é que as negociações, relações e investimentos no Brasil vão acontecer de maneira profícua.

Assim, o presidente Lula precisaria permitir que a política monetária seja feita por quem entende do assunto, que são as autoridades monetárias, como é o caso do próprio ministro da Fazenda.

Sem isso, o Brasil vai ficar patinando e não vai se desenvolver para o bem da população.

Cruzeiro FM, com você o tempo todo!!!

Cibelle Freitas
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