O texto é de Fernando Guimarães.
“Na segunda-feira desta semana, o mercado ficou bem agitado e isso ocorreu justamente por conta da disparada da moeda norte-americana.
O dólar, mais uma vez, surpreendeu e terminou a sessão da segunda-feira com ganhos de 1,16%, ou seja, bateu a casa dos R$ 5,66.
E, se não bastasse isso, esse avanço veio acompanhado da escalada dos rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, os chamados Treasuries.
Na semana passada, a Cruzeiro FM trouxe em seu editorial de sexta-feira que os discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva perturbam os mercados, tanto local quanto no exterior.
Em entrevistas, Lula declarou que o país não precisa de juros altos nesse momento e afirmou, também, que não dá para o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ser mais importante que o próprio presidente da República.
Isso não repercutiu de maneira positiva, e o mercado financeiro começou a entrar em desequilíbrio, perdendo o foco.
A preocupação de um cenário sensível como este é que isso acabe provocando impactos na taxa básica de juros do Brasil, a Selic.
A alta do dólar ajuda na elevação do preço da cadeia de produção que depende de materiais importados, puxando junto a inflação e acabando de vez com o afrouxamento monetário do Banco Central.
Em entrevista ontem no Jornal da Cruzeiro, o economista Rogério Benevente defendeu o posicionamento do Banco Central e afirmou que o presidente da instituição tem tomado decisões técnicas e não políticas, o que, então, vem incomodando o presidente do Brasil.
Ele também enfatiza a necessidade de o Banco Central manter-se autônomo e avesso à política, pois não se pode misturar as decisões econômicas, que são mais técnicas, com questões puramente políticas.
Ontem, o jornal Cruzeiro do Sul trouxe em seu editorial essa situação envolvendo o presidente Lula e as críticas dele ao Banco Central e a seu presidente, fazendo um paralelo no título: “Com quantos reais se faz um dólar”.
Vale lembrar que, nesta semana, a moeda brasileira, o Real, completou 30 anos de bons serviços prestados à economia nacional e que conseguiu tirar o Brasil da hiperinflação, que judiava da população.
Agora, por conta dessa turbulência, os mercados começam a ficar receosos e preocupados com a pressão da inflação, considerando, inclusive, que essa é a maior alta do dólar em dois anos e meio.
Na quarta-feira, a situação ficou mais tensa quando as notícias sobre uma reunião do presidente da República com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e demais ministros do governo, davam conta de uma discussão de medidas para conter a alta da moeda estadunidense.
Um dia antes, Lula dizia, em entrevistas, que o Brasil, na verdade, estava sendo vítima de um jogo especulativo contra o real.
E, em meio a essa desordem, o governo acabou declarando ao longo da semana que iria promover cortes de gastos.
Isso, de certa forma, arrefeceu um pouco os ânimos e permitiu que o Ibovespa registrasse altas no pregão de ontem.
No entanto, é preciso que o presidente Lula se mantenha afastado das decisões do Banco Central e espere até o final deste ano para substituir o presidente da instituição, como ele quer.
Conforme declarou ontem o economista Rogério Benevente, durante entrevista no Jornal da Cruzeiro, o presidente precisa romper esse discurso, parar de ficar querendo discutir questões econômicas com o Banco Central.
E, de certa forma, o presidente ontem começou a mudar o discurso, principalmente, depois de ter sido alertado por economistas sobre os danos na política monetária, caso ele continuasse com as críticas.
Assim, desde ontem, passou a adotar uma postura mais neutra frente ao Banco Central.
Em dezembro, termina o mandato de quatro anos de Roberto Campos Neto, de modo que o sucessor, que será indicado por Lula, deverá ser revelado em agosto ou setembro deste ano.
A verdade de tudo isso é que Lula precisa se manter calado e deixar o Banco Central atuar segundo sua autonomia e decidir os rumos da política monetária do país de maneira independente.
O presidente da República não deve se intrometer nessas questões, o máximo aceitável é indicar um novo presidente; então, que Lula siga a cartilha de maneira adequada e faça a lição de casa corretamente, como orientou o próprio ministro da Fazenda dele, Fernando Haddad.”
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