A população do Brasil deve começar a diminuir em 2042, indicam novas projeções do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgadas nesta quinta-feira (22).
O órgão espera que o número de habitantes cresça até o pico de 220,43 milhões em 2041 e, depois, passe a encolher. O movimento de queda tende a se intensificar nas décadas seguintes, levando o contingente para menos de 200 milhões em 2070 (199,2 milhões).
O IBGE atualizou as estimativas a partir de dados do Censo Demográfico 2022 e da PPE (Pesquisa de Pós-Enumeração), que busca examinar a qualidade do recenseamento.
O órgão também levou em conta informações de outras fontes sobre a dinâmica de nascimentos, mortes e migração. As projeções divulgadas nesta quinta abrangem o período de 2000 a 2070.
“A gente vai ter a população crescendo cada vez a taxas menores, e o último ano de crescimento do Brasil seria 2041“, disse Marcio Minamiguchi, gerente de projeções e estimativas populacionais do IBGE, ao apresentar os dados.
“A partir de 2042, a gente passaria a ter uma diminuição da população. Essa redução ocorreria em ritmo cada vez maior [até 2070]“, acrescentou.
O instituto publicou a edição anterior das projeções em 2018, antes da pandemia de Covid-19, que pode ter influenciado parte da dinâmica demográfica, com redução de nascimentos e mais mortes.
Em 2018, o IBGE esperava que a queda da população começasse mais tarde, em 2048. O pico era projetado para o ano de 2047, estimado em 233,2 milhões –maior do que o previsto agora para 2041 (220,43 milhões).
Minamiguchi afirmou que o cenário atual é “um pouco diferente”. Conforme o técnico, dados do Censo 2022 e novas informações sobre variáveis como fecundidade influenciam as projeções divulgadas nesta quinta.
“Na projeção anterior, a gente vivia um período em que, aparentemente, se você olhasse para o gráfico da fecundidade, ela estava meio estável, apresentando até sinais de recuperação. Após isso, na verdade, a trajetória foi mais no sentido de queda“, afirmou.
Para a data de referência de 1º de julho de 2022, o IBGE projetou uma população de quase 210,9 milhões no Brasil. O número está 3,9% acima do registrado no Censo 2022, de quase 203 milhões no mesmo dia.
A nova previsão não invalida os resultados do recenseamento e busca um ajuste para corrigir eventuais omissões de dados da contagem populacional, de acordo com Izabel Marri, gerente de estudos e análises da dinâmica demográfica do IBGE.
A pesquisadora afirmou que o procedimento é comum, não apenas no Brasil, já que erros são esperados em todos os censos. A ideia, disse, é fazer um tratamento da “população de partida” para não carregar possíveis inconsistências para as previsões dos anos seguintes.
Os censos anteriores ao de 2022 ocorreram em 2010 e 2000. Nesta quinta, o IBGE divulgou projeções populacionais para os dois anos com ajustes menores do que em 2022. As diferenças das estimativas de população em relação aos recenseamentos de 2010 e 2000 foram de 2,2% e 3%, respectivamente.
“O censo não muda. Ele conta a população, faz o melhor em campo que pode ser feito. Isso continua como está”, afirmou Marri. A contagem de 2022 sofreu atrasos e restrições orçamentárias.
Após indicar uma estimativa de 210,9 milhões de habitantes no ano do último censo, o instituto projetou populações de 211,7 milhões para 2023 e de 212,6 milhões para 2024.
Do contingente previsto para este ano, a maior parcela, de 51,2% (108,9 milhões), é composta por mulheres. A fatia masculina é de 48,8% (103,7 milhões).
Um dos componentes destacados pelo instituto nas previsões é a taxa de fecundidade. Em 2000, o indicador era de 2,32 filhos por mulher no Brasil, baixando a 1,58 em 2022, diz o IBGE.
A perspectiva é de que a taxa siga em queda até o início dos anos 2040, atingindo a mínima de 1,44 filho por mulher. Em seguida, o instituto espera uma leve recuperação da fecundidade, considerando fenômenos mapeados no exterior.
Isso, contudo, não deve resultar em uma retomada do patamar de períodos passados. Para 2070, a expectativa é de 1,5 filho por mulher, abaixo do nível de 2022 (1,58), por exemplo. Para manter a reposição populacional, é necessária uma taxa de pelo menos 2,1 filhos por mulher.
“Vale destacar que a queda da fecundidade tem um histórico mais longo. A queda da fecundidade no Brasil ganhou força na metade da década de 1960″, afirmou Marla França, pesquisadora do IBGE. “Para a gente ter ideia, essa taxa em 1960 era de 6,28 filhos por mulher.”
Outro indicador que ilustra esse contexto é o número de nascidos vivos no Brasil. O patamar de nascimentos deve passar de quase 2,6 milhões em 2022 para 1,5 milhão em 2070. Ou seja, a redução esperada nesse intervalo é de cerca 1,1 milhão.
Em paralelo, a idade média da maternidade deve ficar maior, passando de 27,7 anos em 2020 para 31,3 em 2070. Em outras palavras, a decisão de ter filhos tende a ser postergada. O indicador era de 25,3 anos em 2000.
Os dados do IBGE ainda reforçam a tendência de envelhecimento no país. A proporção de pessoas de 60 anos ou mais, em relação ao total de habitantes, deve saltar de 15,6% em 2023 para 37,8% em 2070. Ou seja, quase 38% da população será idosa, se os números se confirmarem.
O percentual de crianças e adolescentes de 0 a 14 anos, por outro lado, tende a diminuir de 20,1% em 2023 para 12% em 2070.
Ao chegar a quase 38% em 2070, o grupo dos idosos deve se tornar o mais representativo, acima das camadas de 40 a 59 anos (25,6%), de 25 a 39 anos (15,5%), de 0 a 14 anos (12%) e de 15 a 24 anos (9,2%).
“A gente vê uma mudança de composição bem nítida ao longo desse horizonte das projeções, passando de um país jovem para um país mais velho“, disse Marcio Minamiguchi, do IBGE.
A esperança de vida ao nascer, que teve redução durante a pandemia, deve pular de 76,4 anos em 2023 para 83,9 anos em 2070.
A expectativa é maior para as mulheres do que para os homens, que tendem a morrer mais por causas externas, como violência e acidentes de trânsito, por exemplo. O indicador projetado para 2070 é de 86,1 anos para elas e de 81,7 anos para eles.
A taxa de mortalidade infantil, por outro lado, tende a recuar. Deve passar de 12,5 óbitos por mil nascidos vivos em 2023 para 5,8 em 2070, conforme o IBGE.
A redução e o envelhecimento da população trazem uma série de consequências para o país. Mais tempo de vida sinaliza uma evolução nos tratamentos de saúde e bem-estar, o que é celebrado por especialistas.
Ter menos filhos também é visto como possível estímulo para a entrada de mais mulheres no mercado de trabalho, já que a população feminina historicamente lida com uma sobrecarga de tarefas domésticas.
A dinâmica demográfica, contudo, tende a pressionar as despesas com previdência e deve desafiar o crescimento da economia ao possivelmente reduzir a força de trabalho.
A saída para isso, dizem analistas, passaria pelo aumento da produtividade da mão de obra, outro gargalo histórico no Brasil.
Ainda de acordo com as projeções do IBGE, os primeiros estados a apresentarem redução populacional devem ser Alagoas e Rio Grande do Sul. Nesses locais, o instituto diz que o número de habitantes tende a encolher já a partir de 2027.
O Rio de Janeiro vem logo em seguida. A população fluminense deve diminuir a partir de 2028, conforme o IBGE. Em São Paulo, isso tende a ocorrer em 2037.
Até 2070, Mato Grosso será a única unidade da Federação sem baixa no número de habitantes, indicam as projeções.
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