O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central avalia que o aumento das projeções de inflação de médio prazo tornou o cenário à frente mais desafiador, conforme ata divulgada nesta terça-feira (24).
O colegiado do BC considera também que o forte ritmo de crescimento da atividade econômica torna mais difícil o processo de convergência da inflação à meta e afirma que as expectativas mais distantes do alvo são “um fator de desconforto comum a todos os membros”.
De acordo com o Copom, houve piora na composição da inflação e interrupção no processo desinflacionário no período mais recente.
“Concluiu-se que a inflação corrente, medida pelo índice cheio ou por diferentes medidas de núcleo, em níveis acima da meta, em contexto de dinamismo da atividade econômica, torna a convergência da inflação à meta mais desafiadora”, afirmou.
O alvo perseguido pelo BC é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).
No cenário de referência do Copom, a projeção de inflação para o primeiro trimestre de 2026 situa-se em 3,5% (era de 3,4% em julho). Esse é prazo trabalhado hoje pelo BC para a convergência do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) à meta.
De acordo com o documento, toda a cúpula do BC concordou em iniciar gradualmente o ciclo de alta de juros. Na última quarta-feira (18), o Copom elevou a taxa básica (Selic) em 0,25 ponto percentual, de 10,5% para 10,75% ao ano, na primeira alta feita durante o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“O comitê julgou que o início do ciclo deveria ser gradual de forma a, por um lado, se beneficiar do acompanhamento diligente dos dados, ainda mais em contexto de incertezas, tanto nos cenários externo como doméstico, mas, por outro lado, permitir que os mecanismos de transmissão da política monetária que possibilitarão a convergência da inflação à meta já comecem a atuar”, afirmou.
Na ata, o Copom evitou antecipar a intensidade dos próximos movimentos e o tamanho do ciclo de elevação da Selic, deixando a porta aberta para novas altas. “Em virtude das incertezas envolvidas, o comitê preferiu uma comunicação que reforça a importância do acompanhamento dos cenários ao longo do tempo, sem conferir indicação futura de seus próximos passos, insistindo, entretanto, no seu firme compromisso de convergência da inflação à meta”, disse.
O comitê reforçou que o cenário demanda um política de juros que ajude a frear a força da atividade econômica para assegurar o controle da inflação.
Como justificativa, o colegiado citou a resiliência da economia brasileira, as pressões do mercado de trabalho, a elevação das projeções de inflação, as expectativas distantes da meta perseguida e o hiato do produto positivo (indicação de que a atividade está operando acima do seu potencial, aquecida e sujeita a pressões inflacionárias).
Na ata, o Copom trouxe uma avaliação um pouco mais dura quanto à política fiscal, classificada pelo BC como expansionista. No entanto, disse ter incorporado em seus cenários uma desaceleração no ritmo de crescimento dos gastos públicos ao longo do tempo.
“Uma política fiscal crível, embasada em regras previsíveis e transparência em seus resultados, em conjunto com a persecução de estratégias fiscais que sinalizem e reforcem o compromisso com o arcabouço fiscal nos próximos anos são importantes elementos para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de riscos dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, afirmou.
O comitê ressaltou o efeito da política fiscal expansionista sobre a taxa neutra –que não estimula nem desestimula a economia– e, consequentemente, sobre a atuação do BC.
“O esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”, disse.
A elevação do juro neutro tem reflexo no impacto da política monetária sobre a economia. Isso significa que quanto mais alto o juro neutro, maior precisa ser a Selic no processo de combate à inflação. Por ser uma variável “não observável”, há grande incerteza em sua definição. O próprio BC considera que ela não deve ser atualizada com frequência.
O Copom também falou em maior cautela na condução da política de juros diante de um ambiente de maior incerteza global e de movimentos cambiais “mais abruptos”. A taxa de câmbio usada pelo colegiado do BC foi de R$ 5,60, contra R$ 5,55 no encontro anterior, em meio à desconfiança dos agentes econômicos com a política fiscal do governo Lula.
Informações Folha de São Paulo
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