A tensão entre os produtores de carne brasileiros e o Carrefour, gigante varejista francês, atingiu um novo patamar no fim de semana, adquirindo dimensões diplomáticas e políticas. O estopim da crise foi uma declaração do CEO do grupo, Alexandre Bompard, anunciando a interrupção da compra de proteína animal dos países do Mercosul para apoiar agricultores franceses.
Em resposta, os dois maiores frigoríficos do Brasil suspenderam as vendas de carne para o Carrefour no país. Além disso, 44 entidades do setor emitiram uma nota conjunta repudiando a fala de Bompard, especialmente um trecho que questionava os padrões de qualidade da produção latino-americana.
O mercado europeu representa pouco mais de 3% das vendas da agropecuária brasileira, e o setor indica que o impacto do boicote será mais significativo para o Carrefour do que para os produtores nacionais. A operação brasileira da varejista é responsável por mais de 20% do faturamento global da rede de supermercados.
O Carrefour Brasil, uma joint venture entre o grupo francês e investidores locais, tenta se desvincular da crise. Inicialmente, a empresa afirmou que a interrupção valeria apenas para o mercado europeu. Após o anúncio de boicote dos frigoríficos brasileiros, a companhia declarou que está buscando alternativas para garantir o abastecimento das lojas da rede.
A crise ganhou contornos políticos, com integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária estudando um projeto de lei de reciprocidade econômica que limitaria a assinatura de novos acordos comerciais com a França.
No âmbito diplomático, o governo francês contatou o Palácio do Planalto, informando que o Carrefour fará uma retratação pública sobre o anúncio de interromper as compras de carne do Mercosul. A diplomacia francesa também buscou o Ministério da Agricultura brasileiro para tentar mitigar os impactos da decisão do Carrefour.
Enquanto isso, o Itamaraty se prepara para receber os principais negociadores do bloco europeu, que buscam finalizar o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia antes do fim do ano. As negociações ganharam impulso nas últimas semanas, especialmente após a vitória de Donald Trump nas primárias republicanas, com seu discurso de ampliação das taxas alfandegárias como política de fomento ao mercado de trabalho americano.
Fonte: CNN Brasil
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