Após conquistar a prata, Rebeca Andrade vai disputar mais duas medalhas na ginástica
Publicado por departamento de Jornalismo Cruzeiro FM 92,3 em 29/07/2021
A espera foi longa, tanto para Rebeca Andrade como para a ginástica artística feminina brasileira. Mas enfim as mulheres conquistaram a primeira medalha da modalidade em Jogos Olímpicos, justamente na prova que premia a atleta mais completa: o individual geral.
Com 57.298 pontos, ao som de Baile de Favela, a ginasta de 22 anos construiu um desfecho perfeito para sua trajetória olímpica após ter passado por três cirurgias no joelho. Até agora, porque ela ainda irá participar das finais do salto, no dia 1, e do solo, no dia 2.
“Minha mãe está muito emocionada. Ela acompanhou todo o processo. Ela está mais orgulhosa desse momento. Eu estou feliz demais. Eu passei por muita coisa e coloquei esses Jogos como objetivo, mas o meu objetivo aqui era fazer o meu melhor, era brilhar, e eu acho que eu brilhei: consegui a nossa primeira medalha olímpica em ginástica artística feminina”, afirmou a medalhista.
“Eu nem sei explicar o que passou pela minha cabeça. Eu queria muito me sair bem hoje, não digo nem para ganhar medalha, mas fazer uma boa ginástica, uma boa inspiração para outras crianças pretas, brancas, todas as crianças que estão vendo. E um orgulho para o Brasil. Está sendo incrível. Todas as mulheres que passaram pela ginástica artística do Brasil se veem nessa medalha, elas estão muito orgulhosas de mim e se sentindo orgulhosas dessa história”, completou.
Rebeca começou a rotação em um de seus melhores aparelhos, o salto: 15.300, a mais alta pontuação. Depois, vieram as barras assimétricas e a trave, que, na teoria, são aqueles em que a ginasta soma menos pontos (14.666 e 13.666, respectivamente). Mas foram suficientes para garantir a brasileira na briga por medalhas. E, para fechar, faltava o solo. Ao som do já tradicional “Baile de Favela”, Rebeca somou 13.666 após pisar duas vezes para fora do tablado.
Rebeca terminou sua participação não muito empolgada, mas mudou a fisionomia quando recebeu a nota e percebeu que era suficiente para a prata. Depois de Rebeca, só restava a americana Jade Carey para se apresentar, e ela não conseguiu pontos suficientes para alterar o pódio que teve a campeã Sunisa Lee, dos Estados Unidos, com 57.433, e Angelina Melnikova, do COR (Comitê Olímpico Russo), com 57.199, que foi bronze.
Os melhores resultados da ginástica feminina do Brasil até então eram os quintos lugares de Daiane dos Santos (solo), em Atenas 2004, e de Flavia Saraiva (trave), no Rio 2016.
Com a medalha no peito, Rebeca relembrou as dificuldades que enfrentou na carreira e dos apoios que recebeu.
“É muito bom quando você tem um apoio, quando tem alguém te dando um suporte. Eu acho que eu tive isso mas com as pessoas mesmo. Eu dormia na casa dos treinadores para eu conseguir, a minha mãe ia a pé para me dar o dinheiro da condução, meu irmão me levava de bicicleta. Eu saí de casa com dez anos, mas nesse meio tempo eu não ficava tanto tempo em casa, pois as pessoas viam o meu talento e viam o meu futuro e queriam investir. E eu acho que eles têm que fazer isso por mais crianças que têm um sonho, que têm um objetivo, que têm capacidade. Porque é nesse apoio que a gente vê a pessoa crescer. Se eles não me enxergassem, eu não estaria aqui hoje. Isso é muito importante! Apoiem o esporte. O esporte é vida, é inclusão, dá sabedoria, você cresce, você vira um ser humano melhor. E eu sou muito grata”, disse.
A medalhista de prata falou sobre as cinco cirurgias que precisou fazer no joelho, por conta de fibroses, e disse ter aproveitando o período de reclusão causado pela pandemia para se cuidar e conseguir trabalhar seu lado emocional.
“As pessoas te moldam, te mudam. Sabe, eu tive acompanhamento psicológico desde os meus 13 anos e no ano passado para cá eu consegui colocar em prática a parte de não me sentir nervosa, de manter o controle, de conseguir fazer tudo o que eu fazia no treino. É muito importante esse processo de me conhecer. A pandemia foi incrível para mim, tanto para minha operação quanto para meu psicológico. Eu pude me cuidar, me conhecer melhor, saber o que era bom, o que era ruim. Eu me conectei comigo mesma, e hoje a gente vê o resultado disso.”
Com informações do Comitê Olímpico Brasileiro
Foto: Ricardo Bufolin/ COB