Desaparecimento de jornalista do Guardian e indigenista brasileiro na Amazônia tem repercussão internacional
Publicado por departamento de Jornalismo Cruzeiro FM 92,3 em 07/06/2022
O desaparecimento do jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do jornal The Guardian, e do indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira, membro da Unijava e servidor atualmente licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai), em uma viagem que faziam pelo Vale do Javari, no Amazonas, causa profunda preocupação no veículo britânico e tem repercussão na mídia europeia.
Em uma longa matéria publicada nesta segunda-feira (6) sobre o caso, que está sendo investigado pela Polícia Federal, o Guardian afirma que Phillips é conhecido “por seu amor pela região amazônica” e viaja com frequência para áreas remotas da floresta, para relatar a crise do meio ambiente e ameaças às comunidades indígenas. Phillips já tinha feito uma expedição com Pereira na mesma região, em 2018.
O texto informa que o repórter estava viajando com o ex-funcionário do governo brasileiro “encarregado de proteger as tribos não contatadas do Brasil, que há muito tempo recebem ameaças de madeireiros e garimpeiros que procuram invadir terras indígenas”. “O temor pela segurança do jornalista e do especialista brasileiro aumenta”, escreve o diário britânico.
Dom Phillips, um colaborador de longa data do Guardian no Brasil, foi visto pela última vez durante o fim de semana no Vale do Javari — uma vasta região de rios e mata tropical no estado do Amazonas, perto da fronteira com o Peru. De acordo com o Guardian, Phillips trabalha atualmente em um livro sobre o meio ambiente com o apoio da Fundação Alicia Patterson.
Líderes indígenas da União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Unijava) alertaram a Polícia Federal sobre o desaparecimento dos dois homens nesta segunda-feira, depois de ficarem sem notícias desde a manhã de domingo (5).
Barco novo
Em um comunicado, a Unijava relata que Phillips e Pereira se deslocaram de barco, com o objetivo de visitar a equipe de Vigilância Indígena que se encontra perto de uma localidade chamada Lago do Jaburu, perto da Base de Vigilância da Funai, no rio Ituí. O jornalista deveria visitar o local e fazer algumas entrevistas com os indígenas. O inglês e o brasileiro chegaram ao destino na noite de sexta-feira (3) e, no dia 5, retornaram logo cedo para a cidade de Atalaia do Norte.
“Porém, antes os dois pararam na comunidade São Rafael, visita previamente agendada, para que o indigenista Bruno Pereira fizesse uma reunião com o líder comunitário apelidado de ‘Churrasco’, com o objetivo de consolidar trabalhos conjuntos entre ribeirinhos e indígenas na vigilância do território bastante afetado pelas intensas invasões”, aponta o informe. “Eles conversaram com a esposa do ‘Churrasco’, visto que este não estava na comunidade, e depois partiram rumo a Atalaia do Norte, viagem que dura aproximadamente duas horas”, prossegue o comunicado. Eles deveriam ter chegado por volta de 8h ou 9h da manhã em Atalaia do Norte, o que não ocorreu.
O jornal francês Le Monde, que também repercute o caso, destaca que Phillips e Pereira viajavam em um barco novo.
Nas redes sociais, ambientalistas, jornalistas, defensores dos povos indígenas e políticos comentam o caso com preocupação e exigem esclarecimentos sobre o paradeiro dos dois homens.
Guardian condena ataques a jornalistas
Um porta-voz do Guardian afirma que o veículo “está muito preocupado e busca urgentemente informações sobre o paradeiro e a condição de Phillips”. A direção do jornal está em contato com a embaixada britânica no Brasil, com autoridades locais e nacionais “para tentar estabelecer os fatos o mais rápido possível”.
“Condenamos todos os ataques e a violência contra jornalistas e profissionais da imprensa. Temos a esperança de que Dom e aqueles com quem viajava estejam a salvo e sejam encontrados em breve”, indica a nota.
Na semana passada, o jornalista escreveu “Amazônia sua linda” ao lado de um vídeo publicado em sua conta no Instagram, quando navegava de barco em um dos rios da região.
A ONG Human Rights Watch diz estar extremamente preocupada com a situação e exortou as autoridades brasileiras a mobilizar todos os recursos possíveis nas buscas por Phillips e Pereira.
Com informações da RFI.