Editorial: Financiamento para quem? (27/01/2023)
Publicado por departamento de Jornalismo Cruzeiro FM 92,3 em 27/01/2023
Na quarta-feira desta semana, o conselho de administração do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) aprovou o nome de Aloizio Mercadante para presidir o banco público.
E, além dele, nesse mesmo pacote, os conselheiros escolheram, também, Tereza Campello, Natalia Dias e Helena Tenorio para cargos de diretoria na instituição financeira.
Os escolhidos se juntam aos diretores já nomeados Alexandre Corrêa Abreu, que presidia o banco interinamente, José Luis Gordon, Nelson Barbosa Filho e Luiz Navarro.
Para funcionários do banco, a nomeação de Mercadante é importante para a instituição, pois entendem, conforme a associação que os representa, a AFBNDES, que temas como as operações de empréstimo do banco no exterior poderão ser discutidos de maneira democrática.
No começo desta semana, conforme noticiários aqui na Cruzeiro FM e em outros veículos de comunicação, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, confirmou, no encontro que teve com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, em Buenos Aires, que o BNDES financiará parte da obra estatal do gasoduto Néstor Kirchner.
Lula ainda enfatizou em seu discurso que as críticas ao apoio financeiro do Brasil ao empreendimento argentino é pura ignorância.
Vale lembrar que, logo depois da eleição do petista, em 2022, a secretária de Energia da Argentina, Flavia Royón, anunciou, em 12 de dezembro de 2022, que o país argentino já conta com 689 milhões de dólares de financiamento do BNDES para concluir a construção do segundo trecho da obra.
A primeira fase já foi concluída, mas, o pior de tudo, é que esse valor astronômico confirmado pelo presidente Lula à Argentina vai ajudar somente o país vizinho, pois não há nem previsão de quando esse gasoduto, que vai ligar os campos de óleo e gás da região de Vaca Muerta até San Jerónimo, chegará ao Brasil.
No discurso feito por Lula, ele disse que países grandes têm de ajudar países pequenos, então, isso pressupõe que o Brasil não vai tão mal das pernas como alegava o grupo de oposição ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Lula, entretanto, não confirmou o valor dito pela secretária da Argentina nem como o país vizinho irá pagar essa ajuda.
Estranha o discurso dele, também, de não ter levado o agora presidente do BNDES, Aloízo Mercadante, para o encontro com o presidente da Argentina.
Segundo Lula, a decisão de não levar o ex-ministro seria por uma questão de cautela, a fim de evitar uma associação direta do ex-ministro como um representante do BNDES antes de sua formalização no comando do banco público.
Bom, tais decisões nos remetem, na verdade, à ideia de que tudo já estava formatado para a nomeação de Mercadante no BNDES e garantir a solidariedade financeira do Brasil com países vizinhos.
Maria Silvia Bastos Marques, ex-presidente do BNDES na gestão de 2016 a 2017, e que, atualmente, é membro independente de conselhos administrativos de empresas, afirmou que o Brasil já pagou preço alto por usar o BNDES para financiar obras em países vizinhos sem os devidos parâmetros e planejamento.
Em gestão passada do presidente Lula, essa mesma política econômica de auxílio a outros países acabou prejudicando a instituição por conta de calotes dados pela Venezuela e Cuba.
Esses dois países ainda devem 529 milhões de dólares ao BNDES, o equivalente a 25% do total emprestado da instituição.
Devido ao calote desses países, os empréstimos acabaram sendo pagos pelo Fundo de Garantia à Exportação, o FGE, que é custeado pelo Tesouro.
Dados do BNDES revelam que, dos 656 milhões de dólares emprestados a Cuba, 407 milhões ainda estão por vencer.
São 214 milhões de dólares em atraso indenizados pelo FGE e 13 milhões ainda a indenizar.
No caso da Venezuela, o total ainda a ser pago é menor, cerca de 122 milhões de dólares de um total de 1 bilhão e 500 milhões de dólares.
Esses valores pagos para cobrir o calote da Venezuela e Cuba foram pagos pelo contribuinte brasileiro.
Então, cabe a pergunta: Qual é a responsabilidade do governo federal em decidir continuar com esses financiamentos a países vizinhos em obras que não retornam em nada para o Brasil e quanto ao compromisso, do mesmo governo, com a sociedade brasileira e o crescimento econômico do país?
Fica a reflexão!!!
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