Editorial: Uma coisa é uma coisa… 06/10/2023

Publicado por departamento de Jornalismo Cruzeiro FM 92,3 em 06/10/2023

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), criticou a greve do metrô e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), ocorrida na terça-feira desta semana.

Ele disse que a paralisação é motivada por “interesses políticos e ideológicos” e que não refletiram em demandas reivindicadas para a categoria.

O principal mote da movimentação empreendida pelos sindicatos era contra o programa de privatização anunciado pelo governo estadual e que fora apresentado durante a campanha eleitoral de 2022 no programa de governo de Tarcísio.

Em uma de suas contas oficiais nas redes sociais, o governador declarou ser lamentável a população de São Paulo acordar, mais uma vez, refém de sindicatos que manobram os trabalhadores do transporte público estritamente por interesses políticos e ideológicos.

A análise é bem simples e não precisa ser um expert em política ou analista político para entender que o motivo da greve não tinha nada a ver com o trabalho desenvolvido pelos profissionais de transporte coletivo.

A razão do movimento grevista era, na verdade, manisfestar apoio contrário à futura privatização da Sabesp.

Mas é importante ressaltar aqui que os servidores da Sabesp também haviam aderido a essa greve.

O estopim para a greve dos servidores aconteceu quando Tarcísio colocou a privatização da Sabesp no orçamento de 2024.

No entanto, isso não pode justificar uma paralisação de cem por cento de trabalhadores do Metrô nem da CPTM.

A declaração da presidente do Sindicato dos Metroviários, Camila Lisboa, confirmou que a paralisação do setor ocorreu em apoio aos trabalhadores da Sabesp quando defendeu que “interesses políticos e ideológicos” é querer vender São Paulo para “atender aos interesses de bilionários que querem lucrar” com a privatização do transporte público.

Bem, mas calma lá! Ela falou em transporte público. Assim, a tal greve em prol da Sabesp não teria sido legítima, não é mesmo?

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Se o governo de São Paulo pretende privatizar o transporte público, isso é outra questão e que constava do plano de governo de Tarcísio durante as eleições.

Considerando-se a eleição vencida por ele, podemos entender que o eleitor de São Paulo aceitou as propostas de Tarcísio, inclusive a de privatizar o transporte público.

Vale ressaltar que a privatização incluída na Lei Orçamentária de 2024, enviada à Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), na segunda feira, trata-se da Sabesp e não do Metrô nem da CPTM.

A ideia do governo estadual, conforme apurado pelo Painel da Folha de São Paulo, é vender a participação do governo na empresa e ficar com menos da metade das cotas, ou seja, repassando a administração para o setor privado.

Atualmente, o governo estadual controla a empresa de saneamento e tem 50,3% do seu capital social.

O restante das ações é negociado na Bolsa de Valores de São Paulo e na de Nova York.

Conforme levantado pelo Poder 360, o governo de São Paulo tem R$ 14 bilhões em alienação de bens incluídos na proposta orçamentária, porém, R$ 10 bilhões desse total vêm da venda da Sabesp à iniciativa privada.

Em agosto, o governo lançou um guia informativo sobre a desestatização da empresa, no qual traz dados sobre benefícios da operação à população paulista e um modelo de que a desestatização pode ampliar investimentos no Estado, reduzir tarifas e tornar a companhia uma plataforma multinacional do setor.

No total, segundo o governo, serão beneficiadas com os serviços 10 milhões de pessoas até 2029, sendo 1 milhão de novos usuários em áreas rurais, irregulares, consolidadas ou em comunidades tradicionais.

No resumo da proposta, o governo continua como acionista minoritário da Sabesp mesmo com a privatização.

Com relação à privatização do transporte, essa é mais complexa e vem ocorrendo por etapas, como, por exemplo, a privatização de algumas linhas do Metrô.

Partidos de oposição querem que o governo leve a proposta da privatização a plebiscito, mas o governo é contra e defende a tese de que todos os projetos de desestatização do estado estão passando por audiências públicas, conforme exigido por lei.

A despeito de tudo isso, nada, de fato, justificaria uma greve total do transporte coletivo de São Paulo, já que se trata da proposta de privatização da Sabesp.

A greve é legítima, mas para fins de defesa dos direitos dos trabalhadores e não como ferramenta de manobra política.

Para isso, há outros meios para manifestar o desacordo a decisões políticas de governo.

Prejudicar milhares de pessoas que dependem do transporte coletivo todos os dias para cumprirem suas tarefas diárias por conta de uma proposta de privatização de outro setor, certamente não se justifica.

Cruzeiro FM, com você o tempo todo!!!


Você está ouvindo

Cruzeiro FM 92,3 Mhz

A número 1 em jornalismo