Ex-funcionárias do hospital Adib Jatene denunciam possíveis irregularidades

Publicado por departamento de Jornalismo Cruzeiro FM 92,3 em 23/03/2022

Assédio moral, falta de limpeza e erros médicos. Essas são algumas das supostas irregularidades denunciadas por duas ex-funcionárias do Hospital Regional Dr. Adib Domingos Jatene, em Sorocaba, e noticiadas na versão impressa do jornal Cruzeiro do Sul, na edição desta quarta-feira (23). O Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) foi acionado, contudo, determinou investigação inicial sobre um suposto bloqueio de leitos para não atender à população e que foi relatado por uma das denunciantes.

Conforme uma ex-funcionária da empresa terceirizada que faz a gestão do hospital, a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), os serviços de limpeza são precários. Em imagens, é possível ver equipamentos sujos, com crostas amarelas e manchas de sangue. Ainda assim, ela relata que foram liberados para uso. Outra entrevistada, do setor de cirurgia, contou que os equipamentos utilizados durante os procedimentos, por diversas vezes, não são bem higienizados.

A reportagem do Cruzeiro do Sul teve acesso a algumas notificações de acompanhamento de ocorrências registradas no hospital. Em uma delas, durante um procedimento cirúrgico, uma broca direcionada — equipamento para perfurar o osso — estava travando e ruim para uso. Após o procedimento de desmontar o equipamento, um osso de um procedimento anterior caiu da broca.

O equipamento foi analisado no Centro de Material e Esterilização (CME). Após o caso, profissionais fizeram um relatório e recomendaram a revisão dos fornecedores. Posteriormente, os especialistas teriam sido repreendidos pela diretoria de enfermagem por “expor o setor”.

Essas “retaliações” dos supervisores para com os funcionários que apontam irregularidades, segundo as denunciantes, seriam uma prática comum dentro do hospital, sendo que, em muitos casos, estes foram demitidos.

Outra reclamação é com relação aos supostos casos de assédio moral. “Os supervisores gritam na frente de todos; a comida levada pelos enfermeiros em sacolinhas é revistada pelos guardas; os enfermeiros são proibidos de entrar no mesmo elevador dos médicos e o tratamento é desigual”, relembrou uma das denunciantes. As entrevistadas ainda afirmam que muitos funcionários do hospital acabam por desenvolver transtornos mentais relacionados às condições de trabalho. “Muitos desenvolvem ansiedade e depressão, assim como eu”, revelou uma das ex-funcionárias.

Erros médicos

De acordo com notificações de acompanhamento de erros médicos, em 2021, uma criança estava recebendo nutrição parenteral periférica (NPP) — que permite a administração de nutrientes para pacientes que não podem se alimentar, por meio de cateter mais fino instalado em veias, e exige procedimento contínuo, sem pausa — quando um anestesista interrompeu o procedimento, mesmo com o alerta da mãe e da enfermeira. A criança adquiriu infecção. O caso foi registrado, mas nada foi feito.

Ainda com base nas notificações, também no ano passado uma luva contaminada teria sido utilizada por um médico em uma cirurgia. Em fevereiro de 2022, outro médico se recusou a realizar um procedimento de curativo, alegando ter mais 15 pacientes para visita. Em janeiro deste ano, a enfermagem teria entregue dieta vencida a uma paciente. Este último caso ainda seria frequente conforme relato de ex-funcionários.

De acordo com a denunciante, erros médicos são recorrentes. “Os eventos deste tipo, incluindo óbitos, são registrados e analisados pelo serviço da qualidade. A enfermeira encaminha para a tratativa e sugere as ações necessárias, que nunca são ouvidas e aplicadas. Assim, os óbitos e erros graves permanecem sob o domínio dos diretores”, relatou.

Conhecimento técnico

Uma das denunciantes contou ao Cruzeiro do Sul que solicitou à diretoria do hospital a revisão dos protocolos sanitários e de controle de pragas, além do travamento das janelas de todo o hospital por conta de vetores, mas foi ignorada. Conforme a ex-funcionária, isso seria uma das evidências relacionadas à suposta falta de competência técnica das diretoras de enfermagem. “O assunto aborda o básico em qualquer hospital para evitar a entrada de mosquitos e pernilongos nos quartos e mesmo assim foi motivo de discussão por parte da diretoria”.

Leitos bloqueados

Uma das denunciantes ainda relatou que existem mais de 40 leitos no hospital que poderiam ser utilizados pela população, mas que estão bloqueados sem justificativa aparente. “A diretoria envia um número de leitos disponíveis para a Secretaria de Saúde. Porém, o número de leitos real é outro. Temos muito mais leitos do que os enviados como disponíveis, o que impede a população de ser atendida”, ela afirmou.

MP denuncia

O Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) foi acionado por uma das denunciantes e determinou investigação inicial sobre um suposto bloqueio de leitos para não atender à população. A promotora de Justiça Cristina Palma informou que o caso ainda requer documentação comprobatória e que está em fase inicial.

O despacho solicita que o Departamento Regional de Saúde de Sorocaba (DRS XVI) informe, “fazendo vistoria se necessário, se o hospital disponibiliza todos os leitos existentes para atendimento populacional ou se há leitos bloqueados”. O prazo de resposta é de cinco dias.

A direção do hospital ainda deve ser notificada para que apresente à promotoria o cálculo de dimensionamento dos profissionais de enfermagem para atendimento, de acordo com Cristina.

O que diz a SPDM

Em resposta aos questionamentos do jornal Cruzeiro do Sul, o Hospital Regional de Sorocaba, por meio da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), afirmou que segue todos os protocolos de segurança, tanto para atuação dos profissionais quanto para o atendimento de pacientes. Disse ainda que, em dois anos de pandemia de Covid-19, em nenhum momento houve falta de equipamentos de proteção individual (EPI) e que, neste período, ações de apoio emocional foram desenvolvidas para monitoramento de todos os colaboradores, afastados ou não por motivos de saúde.

Sobre as denúncias relacionadas a assédio moral, a direção disse que “repudia quaisquer atos de assédio moral e para combatê-los, mantém diferentes canais diretos, divulgados em folders e banners, para estimular e permitir qualquer inconformidade, sempre preservando o sigilo do denunciante (anônimo ou não). Além disso, preza por responder todas as denúncias, independentemente de serem ou não anônimas”.

Negou ainda irregularidades com relação a limpeza e higiene de ambientes e equipamentos. “O Hospital segue todos os protocolos preconizados pelas instâncias reguladoras e sanitárias, tendo sido avaliado para as diferentes licenças de funcionamento em 04/2018, 08/2018, 02/2020, 09/2020, 10/2020, 12/2020 e 01/2022. O Hospital informa ainda que, após a alta de um paciente de determinado leito ou setor, o serviço de limpeza e higienização é acionado e realiza os processos segundo protocolos estabelecidos por tipo de leito e setor, que só são liberados após checagem da equipe assistencial de enfermagem e/ou pelo Setor de Controle de Infecção Hospitalar”, comunicou à reportagem.

“O Hospital Regional de Sorocaba Dr. Adib Domingos Jatene possui certificado em nível de Excelência (ONA 3), da Organização Nacional de Acreditação, sendo a única unidade pública 100% SUS com ONA 3 na região em que é referência”, concluiu a nota do hospital.

O que diz o Estado

A Secretaria de Estado da Saúde informou que não recebeu denúncias sobre os casos mencionados na Ouvidoria da pasta.

Sobre os relatos da falta de higiene, a Secretaria afirma que “as unidades estaduais recebem orientações quanto aos protocolos sanitários contra a Covid-19, bem como referente aos demais cuidados de necessidade hospitalar”.

Diz ainda que ações referente à saúde mental são regularmente realizadas, “para maior cuidado com a saúde emocional dos colaboradores”, e que “repudia quaisquer atos de assédio moral e está à disposição para os esclarecimentos que se fizerem necessários”, concluiu a nota. 

As informações são do jornal Cruzeiro do Sul. Reportagem: Kally Momesso.


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